Elson de Souza Ribeiro
Historiador, professor da rede estadual de Goiás e escritor

Algum colega Historiador consegue explicar aos seus alunos a conjuntura da política brasileira sem apego a nenhum político de estimação? 

 
Bolsonaro se elegeu em 2018 graças ao antipetismo, as promessas de acabar com a corrupção e com as práticas da velha política. Parte da população deslumbrou-se com a possibilidade de colocar uma arma na cintura. Muitos eleitores, de classes sociais variadas, alimentados por várias plataformas virtuais, embarcaram nesta aventura.
 
O “Messias” não fez questão de dissimular o seu perfil político e nem o destempero emocional, mesmo depois de eleito. Vídeos no “you tube” podiam falar por ele, porém estes raramente eram acessados pelos seus eleitores, em sua maioria apegados às suas “identidades” políticas, controlados pelo “raciocínio motivado" nos subterrâneos da guerra virtual, repetindo argumentos e outras asneiras feito papagaios.
 
A internet está fazendo 32 anos de Brasil. Vários grupos desordeiros tem utilizado esta ferramenta para promover um “Velho Oeste” virtual. E tudo indica que o mais perverso deles está no terceiro andar do Palácio do Planalto, lado a lado com o papai presidente. O chamado “Gabinete do ódio", responsável por disseminar Fake News, teria como membro Carlos Bolsonaro.
 
A polarização entre direita e esquerda sobrevive após a eleição, mais desumana e implacável. Os eleitores de ambos os lados não conseguem filtrar o que lhes é apresentado pelas redes sociais através das Fakes News, contribuindo para solidificar as suas convicções políticas. 
 
Enquanto a extrema direita desrespeita as instituições republicanas, baseada no fundamentalismo político, nas milícias e na religião a esquerda fica na posição de vítima. Sonha em salvar a pátria se o futuro chegar, sem algo concreto para tirar o país do caos e sem apresentar um novo nome que tem força política, ou seja, direita e esquerda falam só para os já convertidos, um diálogo de surdos.
 
A extrema direita sofisticou o saco de maldades criando várias páginas personalizadas sob medida, alimentando seus interesses de arrebanhar multidões plantando ódio e preconceito, além de avacalhar com o jornalismo profissional. O número de youtubers bolsonaristas com discursos ultraconservadores e antidemocráticos, seguidos por lunáticos adeptos de intolerância, negacionismo, autoritarismo e conservadorismo, é espantoso. A frase: “A Globo é um lixo!” ocupa todos eles, como se a emissora carioca fosse a única a veicular notícias sobre o “mito”.
 
A ignorância assumiu o poder e atraiu milhares de fanáticos que teimam em existir, pedindo até intervenção militar. Um governante que não quer governar, que prefere causar crises diárias. Um presidente que não dá a mínima importância para a pandemia, não tem senso de humanidade e não demonstra solidariedade às famílias das vítimas do novo coronavírus. 
 
No Congresso Nacional já passam de 30 pedidos de impeachment para tirar o presidente do cargo, superando Fernando Collor de Melo. Em meio a toda esta turbulência, Bolsonaro vem aparelhando seu governo com militares, atualmente o número de oficiais, como ministros, supera a dos ex-presidentes: Médici, Ernesto Geisel e João Figueiredo, durante a Ditadura Militar. Para os cidadãos ingênuos, fica a impressão que todas as Forças Armadas apoiam as loucuras do presidente.
 
Portanto, os eleitores que não queriam a vitória do PT fizeram uma péssima escolha. Naquela galeria de candidatos de 2018, tínhamos, no mínimo, opções que não provocariam este caos político e nem iriam trazer de volta os fantasmas da Ditadura Militar através de constantes ameaças de General Ministro e de um dos filhos do presidente, que adoram flertar com o perigo na tentativa de colocar em risco a democracia. Enquanto isso, o Congresso Nacional faz ouvidos moucos para os pedidos de impeachment, o STF tem se demostrado fraco e sem apoio popular e a pandemia tem provocado mais de mil mortos por dia.