Salatiel Soares Correia

A real possibilidade de que venha ocorrer, no final deste ano, um novo apagão de energia elétrica fez ressurgir a polêmica em torno de uma política energética equivocadamente extinta pelo governo do presidente Jair Bolsonaro: o horário de verão.

Quanto à conveniência de retorno dessa medida governamental, vou logo dizendo: o horário de verão é absolutamente necessário nestes tempos em que o fantasma ao apagão começa a tirar o sono, principalmente, dos consumidores de energia elétrica.

Posto isso, avaliemos o porquê de a adoção dessa política de economia de energia ajudar o país a enfrentar tais tempos em que a iminente falta de energia revive um pesadelo já conhecido da sociedade brasileira desde os tempos em que a alta “tucanagem”, liderada pelo então presidente Fernando Henrique Cardoso, mandava e desmandava nesta terra de Santa Cruz, hoje, denominada Brasil.

A ideia em torno do horário de verão é bastante simples, ela se baseia no fato de que, durante o período do verão, os dias são mais longos do que as noites. Fora desse período, não há diferença significativa entre os dias e as noites.

Sendo assim, os relógios são adiantados em uma hora, e isso influencia os hábitos dos consumidores, que, procurando aproveitar um dia mais prolongado, lotam os shoppings e bares da cidade. Resultado: chegam mais tarde em casa, assim, consumindo eletricidade fora do horário mais problemático para que o setor produtor de energia elétrica possa atender as demandas da sociedade por esse insumo energético — o horário de ponta.

Em suma: para atender o horário de ponta, o setor investe cada vez mais; os consumidores que mudam seus hábitos de consumo de eletricidade para os horários fora de ponta não pressionam as concessionárias de eletricidade a fazer investimentos. É por essa razão que o horário de verão possibilita às empresas de energia elétrica atenderem a um número maior de consumidores sem necessitarem investir na expansão de produção de energia elétrica.

Não resta a menor dúvida de que a resposta ao horário de verão varia de região para região. Por exemplo, nas regiões do país mais próximas ao Equador (Norte e Nordeste), a luminosidade não muda o hábito dos consumidores. Afinal adiantar o relógio em Manaus, Belém ou Porto Velho não altera os hábitos dos consumidores. Já o mesmo não se pode dizer das regiões Sul, Sudeste e parte da Centro-Oeste. Nessas regiões do Brasil os dias são mais longos que as noites. Por essa razão os consumidores ficam mais tempo fora de casa e isso influencia diretamente na diminuição do horário de ponta, logo, a consequência é: adiar investimentos. Em outras palavras, isso significa que as concessionárias terão condições de atender a um número maior de consumidores sem necessariamente investir na construção de novas usinas hidroelétricas, que tanto impactam o meio ambiente, além de endividar o país.

Salatiel Soares Correia
é Engenheiro, Bacharel em Administração de Empresas, Mestre em Energia pela Unicamp. É autor, entre outros livros, de Tarifas e a Demanda de Energia Elétrica.