Tatiana Costa Martins,
psicopedagoga, orientadora educacional em Palmas, mestranda em Ensino em Ciências e Saúde (UFT)
 
O cenário vigente, inegavelmente, impõe um processo reflexivo à pessoas, que em maior ou menor grau, sentem-se impactadas por restrições e pelo surgimento de tantas demandas não imaginadas há alguns meses. Em meio a diferentes realidades seria inviável a emissão de juízos de valor que considerem apenas uma dimensão sobre os desdobramentos da pandemia que assola o planeta, embora alguns ainda teimem em querer impor uma visão unilateral para aquilo que não pode ser compreendido em sua totalidade.
 
Longe de ser uma exclusividade, o estado do Tocantins e seus municípios se veem diante da necessidade de estratégias de retomada dos estudos, sendo significativa a prática de proposição de situações de aprendizagem aos estudantes em distanciamento social, se forem ao encontro de agregar a reflexão acerca da própria realidade, despertando vínculos entre os conhecimentos propostos e os sentimentos vividos. A intenção de um ensino centrado em conteúdos não encontrará fortes elos neste momento, sendo real o desafio de instigar uma apropriação de tais conteúdos a partir da própria reflexão quanto à condição de estudante ativo.
 
Aos questionamentos quanto à perda do ano letivo já existem apontamentos quanto ao futuro cômputo das aulas on-line, pairando forte indagação sobre o caso específico da Educação Infantil. Em se tratando dos bebês (0 - 1a6m), das crianças bem pequenas (1a7m - 3a11m) e pequenas (4-5a11m) torna-se fundamental que a sociedade aproveite a grande oportunidade de construção acerca de um olhar mais consistente sobre a Infância, como tempo e espaço próprios de cada sujeito, sendo a educação apenas uma fração dos muitos acontecimentos que marcam esta etapa.
 
Alvo de recentes investigações sobre a multiplicidade de componentes, a Infância, enquanto categoria social, começa a ser compreendida como momento único de constituição do ser, espaço privilegiado ao desenvolvimento psíquico, sócio-histórico e cultural, de forma que dar visibilidade aos sentimentos, expressões e descobertas da criança deixa de ser uma cultura adulta, assumindo um caráter próprio na sociedade. Para muito além de ser um espaço de propostas pensadas pelo adulto, articuladas pelo adulto, planejadas pelo adulto, a Infância é o momento de ouvir as muitas vozes da criança, suas histórias e atribuições de sentido, em momento de aprendizagem conjunta, sim, momento de aprender com as crianças.
 
O movimento de cuidar e educar proposto à Infância necessita ser revisitado constantemente, de modo a nunca negar a condição de ser social único de cada criança, em respeito ao potencial de aprendizagem e ensino, na interação entre os pares. E então emergem as grandes indagações em torno da Educação Infantil e sua aproximação às propostas de ensino no Ensino Fundamental. Quem dera esta dinâmica de pensamento fosse forte o suficiente para que, também no Ensino Fundamental, as perguntas a balizarem toda prática docente fossem: Há interesse nesta proposta de ensino? De que forma a criança, o estudante, são percebidos como sujeitos dotados de autonomia? Como o ensino se entrelaça à aprendizagem?
 
Esses questionamentos trazem a ideia defendida aqui, a de que a Infância é um momento único a ser considerado na vida de cada ser humano. As muitas infâncias, onde o tempo é o aqui, o agora, percebidas como espaços de ricas interações com outras pessoas, onde a brincadeira seja a mola propulsora de toda aprendizagem que parte de tudo o que já é conhecido e vai além, perpassando todo diálogo sobre o que é sentido, sobre os questionamentos, sobre as incertezas e medos que também povoam o coração infantil.
 
A escola também é o lugar destas ricas interações, e na ausência deste espaço, que toda interação seja pautada pelo respeito à experiência da criança
e seus pontos de vista, de forma que muito mais que falar sobre as crianças neste período de distanciamento, falemos com as crianças.