Eutália Barbosa Rodrigues
assistente Social, servidora pública, mestranda em Serviço Social pela UFT e militante da Marcha Mundial das Mulheres

Nos últimos anos vivenciamos uma ampliação do debate público em torno das questões que oprimem e violentam as mulheres e geram desigualdades de gênero nos espaços públicos e de poder político. Temas como a violência contra os corpos e a vida das mulheres, acesso à renda e ao trabalho, trabalho doméstico e participação política vêm sendo discutidos amplamente na sociedade e compõem as pautas da luta histórica das mulheres e organizações feministas. Assistimos várias conquistas resultantes da luta em defesa dos direitos das mulheres não só no Brasil, mas na América latina e em todo o mundo.

A luta das mulheres é histórica e com isto alguns direitos civis e políticos foram conquistados ainda nos séculos passados, como o direito ao voto e a ser votada. No Brasil esse direito só foi conquistado na década de 1930, sendo um dos países que mais demorou a reconhecê-lo. Talvez por isto estejamos longe de conseguir a garantia da representação de mulheres na política, esta questão ainda está absolutamente distante de uma correção na atual realidade do nosso país. 

No Brasil a participação das mulheres nos espaços públicos e em mandatos eletivos, apesar das constantes conquistas, ainda é um grande desafio. Conforme Mapa da Política de 2019, elaborado pela Procuradoria da Mulher no Senado, as mulheres representam apenas 15% dos mandatos no congresso nacional, sendo 13% no senado e 12% na câmara dos deputados e deputadas, já referente a todos os cargos eletivos, ou seja, aqueles cargos que necessitam de voto popular para serem ocupados, às mulheres representam apenas 12,32% dentre os 70 mil cargos. É importante lembrar que as mulheres representam mais de 50% da população brasileira e consequentemente a maioria do eleitorado nacional 

No Tocantins, conforme dados do site generonumero.mediaeleições2020 , os cargos eletivos resultantes das eleições de 2020 somam 1.438 no total e destes somente 249 são ocupados por mulheres, sendo 20 prefeitas e 229 vereadoras. Ou seja, as mulheres tocantinenses ocupam apenas 19% dos mandatos eletivos, o que significa um lamentável distanciamento das mulheres dos espaços da política, resultado de uma cultura política estruturada em relações machistas e desiguais entre homens e mulheres. É importante destacar que estes números são ainda mais rebaixados quando se trata de mulheres negras, pobres e periféricas.

As eleições de 2020 foram marcadas por disputas de projetos que evidenciaram a participação de muitas candidatas conectadas organicamente com as lutas e a auto-organização de mulheres, porém, apesar da conquista das cotas de 30% de mulheres tanto nas chapas, quanto na divisão dos recursos eleitorais, infelizmente ainda não impactou na ocupação dos mandatos eletivos. Ou seja, serão necessárias mais medidas positivas para reparar esta exclusão histórica das mulheres na política.
Há quem diga que as mulheres não participam da política porque não gostam ou não são capazes. Isto é uma falácia, pois na verdade a pouca participação das mulheres na política tem suas raízes em duas dimensões principais:
A primeira delas é histórica, que, fundamentada no poder do patriarcado, as mulheres sempre foram colocadas a assumir os papéis do trabalho doméstico e do cuidado, sendo obrigadas a se isolarem nos espaços privados da vida. Desta forma, para o sistema patriarcal o espaço público e da política não é um lugar para as mulheres.

A segunda é política. Fundamentada na questão histórica, o sistema político e as estruturas partidárias não investem ou não priorizam as candidaturas de mulheres para que, assim, fosse possível alterar esta realidade de sub-representatividade. Um exemplo lamentável disto foram às inúmeras candidaturas laranjas que alguns partidos submeteram várias mulheres em todo o Brasil, apenas para cumprimento de cota mínima. 

Além da questão da baixa representação das mulheres em termos percentuais, ainda precisamos enfrentar um desafio fundamental que é a representatividade, pois sabemos que nem todas as mulheres que ocupam os espaços de representação política em mandatos eletivos adotam a pauta necessária para as mulheres. 

Desta forma, acredito que o programa máximo de defesa das mulheres deve conduzir as eleições, para que avancemos na construção de políticas estruturantes que de fato altere e mude a realidade da vida das mulheres, sobretudo na eliminação de todas as formas de opressão sobre as nossas vidas e nossos corpos.