O Herberth é meu amigo máximo. Nos conhecemos há mais de 30 anos na República Autônoma do Itatiaia e somos amigos há 30 anos. Inclusive, raridade eu ter amigo com menos de década de relação. 
 
Eu queria escrever uma crônica/ensaio em homenagem a nossa amizade e ao Herberth, mas não dei conta de selecionar todas as memórias. Pensei até num livro depois dessa vontade. E quando me veio o ensaio do Montaigne sobre amizade, a dele com o La Boétie, vi que essa nossa amizade merece e senti inveja de não ser um dos maiores escritores franceses. 
 
Meu amigo é o meu pior conselheiro amoroso; sempre me dou mal quando considero a sugestão dele e sempre considero. Em contrapartida é o meu melhor conselheiro para todo o resto. Sou o melhor conselheiro amoroso dele, e o pior para todo o resto; o que já explica nosso vínculo. 
 
Apoiei irrestritamente a paixão dele pela Germana, sai fazendo “escada” para ele, que é tímido inicialmente. Fui seu bobo da corte, no sentido positivo dessa arte. 
 
Aprendi muito do que sei de amar bem as pessoas com ele. O Herberth nasceu no dia da abolição da escravatura, que apesar da falsa liberdade e da idolatria à Princesa Isabel, foi fruto de muita luta; por isso o tenho como o Zumbi do meu Palmares, o Luiz Gama que tive a sorte de ter como amigo eterno. 
 
Numa conversa, lamentei que não tivesse filhos, e ele: “Porra, você é padrinho dos meninos; eles te adoram, fica só com a melhor parte”. Comecei dando um livro para o mais velho que a mãe censurou a leitura porque era muito aterrorizante. O muleke leu e contou. Edgar Allan Poe. 
 
Sempre fomos menos talentosos do que nossos irmãos imediatamente mais velhos. Também mais espertos. Para embalar o começo da noite na esquina da rua, ele aprendeu um grande repertório de no máximo 20 músicas, já que os irmãos estavam em outra e só davam uma palhinha às vezes. Quando acabava as 20, repetíamos. 
 
Nossa amizade sempre foi saudável e nos tornam melhores, eu acho, e porque o Herberth é um dos caras mais inteligentes e fortes e sensíveis da minha vida. 
 
Cantávamos Raul e era assim: “Baby, essa estrada / é comprida / Ela não tem saída / É hora de acordar / Pra ver o galo cantar / Pro mundo inteiro escutar”. Com ele, ouvi e vimos, ouvirei e veremos os galos cantarem.
 
Quando decidi a data da minha viagem à Lisboa, após a morte do meu irmão e tudo que isso movimentou, ele disse: “Vamos juntos. Vou com você, passar uns dias juntos e te ajudar a se estabelecer”. Cheguei em casa e contei, meu pai feliz disse: “É… que amizade!”; minha irmã logo emendou: “Hich’ts! Eles são irmãos. Minha mãe dizia: eles são irmãos de barrigas diferentes”. 
 
Feliz aniversário, nego!