Vivi boa parte da minha infância na zona rural de Monte Alegre de Goiás. E lá, nessa época, por todo lado, havia córregos com águas límpidas, matas fechadas e animais em abundância. Ainda guardo na memória a pureza da água do Rio Sucuri, que até hoje abastece a cidade, mas não mais com a força de antes. Visitando a cidade no mês de julho, percebi que as matas deram lugar aos pastos, os animais sumiram e o rio está quase morrendo.

O Rio Sucuri é apenas um pequeno exemplo do que vem ocorrendo no Brasil. A ganância do homem, que busca o lucro a todo custo, não consegue fazê-lo enxergar o mal que faz, não somente à natureza, mas a si próprio. Vivemos em constante crise hídrica. Quando o período da seca se aproxima, começa o drama da falta d’água em várias cidades. Esse problema não aconteceria se o homem entendesse a importância das matas para que as chuvas ocorram de maneira a sustentar as bacias hidrográficas do País durante todo o ano, sem riscos ao abastecimento da população.

Mas o que fazer para contornar a situação? Preservar o que ainda existe é uma boa iniciativa. Neste mês de julho também visitei o Rio Palma, no município de Aurora do Tocantins, e ali vi a força da preservação. Um balneário, onde os turistas podem desfrutar das belezas do lugar, mas com a preocupação em não destruir aquele patrimônio, com orientações do poder público de como usar o meio ambiente de forma sustentável. Um belo exemplo.

Nos locais onde a mata ciliar dos rios foi destruída – como o caso do Rio Sucuri, em Monte Alegre de Goiás – resta a conscientização dos fazendeiros para que façam o replantio das árvores e vejam a água brotar com força novamente. Iniciativas parecidas já ocorreram. Recentemente uma reportagem mostrou que o fotógrafo Sebastião Salgado fez o reflorestamento nas nascentes de sua fazenda no interior de Minas Gerais e a água voltou a correr no leito do rio depois de ter secado. Ao explicar a importância das matas para a produção de água, o fotógrafo deu a seguinte explicação: se um careca lavar a cabeça, ela logo seca, mas se uma pessoa com muito cabelo lavar a cabeça, ela ficará molhada por todo dia.

Ao ler esse artigo, haverá, com certeza, quem perguntará: como criar gado e plantar sem desmatar? Não se trata de demonizar o produtor rural, mas de fazê-lo entender que há a possibilidade de aliar desenvolvimento com sustentabilidade. As pastagens podem ser feitas sem a necessidade de destruir as matas ciliares e de derrubar árvores protegidas por lei, como pequi, baru, aroeira, entre tantas outras. É possível plantar também sem que haja a devastação da natureza, conciliando lucro e preservação.

Se não conscientizarmos agora, ainda estaremos aqui para vivenciarmos problemas ocasionados pela não preservação do meio ambiente.