Em que circunstâncias o sistema político produz estadistas? Por que são raros os homens públicos que alcançam esse patamar? Vejamos algumas reflexões a respeito do assunto.

É próprio dos estadistas governarem voltados para a construção do futuro. Cabe-lhes darem o rumo a seguir na busca de um sonho acalentado pela sociedade que governam. Coragem e astúcia são as bases que consolidam o modo de agir dos homens de Estado. Estadistas agigantam-se nas dificuldades. Esse foi o caso de primeiro-ministro da Inglaterra, Winston Churchill, nos dias tortuosos em que Hitler ordenou o bombardeio de Londres. Muita gente sofreu, muita gente morreu. Lá estava Churchill liderando o povo inglês da tragédia até a vitória, na Segunda Guerra Mundial.

Estive na Turquia antes que esse belo país ‒ meio asiático, meio europeu ‒ fosse presidido pelo ditador Erdogan. Lá pude observar pulsar, no coração do povo, a figura do construtor da modernidade turca. Falo de Mustafá Kemal Atatürk. Passadas décadas do falecimento dele, lá estão, ainda hoje, os turcos cumprimentando-se uns aos outros com os punhos cerrados em direção ao infinito. “Atatürk! Atatürk!”. Eis aí a expressão viva da política materializada em gestos de amor de um povo para com seu líder maior.

Quem for a Paris e tiver a curiosidade de conhecer a Universidade de Sorbonne, siga meu conselho e vá conhecer o panteão dos grandes homens. É só atravessar a rua e você chegará naquela majestosa construção onde estão os restos mortais de grandes escritores, cientistas, mas, também, de grandes estadistas que ajudaram a fazer da França o grande país que é: “os grandes homens a pátria reconhece”, é o que diz o letreiro localizado na entrada do panteão. Esses dizeres expressam a gratidão do povo francês por aqueles que ajudaram a construir um o sonho de uma nação desenvolvida.

Do mundo, agora, passamos aos nossos grandes homens de Estado. O primeiro deles vivenciou os horrores do mais sangrento conflito que ceifou a vida de mais de cem mil seres humanos: a Guerra do Paraguai. Nesse conflito, Brasil, Argentina e Uruguai uniram-se para destruir a ditadura de Solano López. Do Rio de Janeiro, rumou o imperador Dom Pedro segundo, para os campos de batalha. Sua presença in loco foi fundamental para reanimar os ânimos das tropas brasileiras. Homem voltado para as ciências e as artes, foi, sob a liderança do erudito imperador, que o país deu os primeiros passos em direção à construção do Brasil moderno. Durante seu longo reinado, de quase meio século, foi construída a primeira usina hidroelétrica

do país: a de marmelos, na mineira Juiz de Fora. Sob a liderança Dom Pedro Segundo, o Brasil começou a participar das feiras internacionais. Com o fim do Império, surgiu a República liderada pelos militares. Os vencedores reconheceram o valor do vencido. Por essa razão, ofereceram ao imperador deposto uma milionária aposentadoria – ele, prontamente, recusou a oferta. Poucos anos depois, o imperador morreu no seu exílio nem um pouco dourado em Paris.

Atos de grandeza são inerentes aos grandes estadistas. Homens desse jaez são raros, bem raros. O reino dos verdadeiros estadistas não está neste mundo, está na imortalidade.