Os últimos dias foram marcados por fortes críticas e ameaças às universidades públicas brasileiras. Como professor de uma dessas instituições federais, gostaria de compartilhar algumas reflexões preliminares com os leitores deste artigo. Neste primeiro momento, a pergunta central é: quem ganhará com o desmonte das universidades públicas? Essas instituições são responsáveis por atividades de ensino, de pesquisa e de extensão. As primeiras, ensino, são mais conhecidas pela população. Não restam dúvidas de que aulas são ministradas e de que alunos se apropriam de inúmeros saberes.

Diferentemente da maioria das instituições privadas de ensino superior, as universidades públicas desenvolvem pesquisas nas mais diversas áreas do conhecimento, não se restringindo às áreas da saúde, das engenharias ou da agronomia, familiares ao cidadão comum. Fazem-se pesquisas também em áreas como artes, direito, filosofia, educação, literatura, sociologia, turismo, linguística, dentre inúmeras outras. Em situações mais simples da vida, os resultados das pesquisas científicas se fazem presentes. A leitura deste texto, utilizando algum suporte impresso ou digital, por exemplo, não seria possível sem o trabalho de cientistas, inclusive de pesquisadores das línguas: os desconhecidos linguistas ou linguistas aplicados.

Além de professores universitários e servidores técnicos, alunos de graduação, mestrado, doutorado ou pós-doutorado desenvolvem investigações relevantes. Muitas vezes, as pesquisas são desconhecidas por pessoas não especialistas no assunto. Porém isso não significa que, por esse desconhecimento, os investimentos públicos sejam desnecessários ou que, até mesmo, as pesquisas sejam irrelevantes.

Se os cursos de graduação ou pós-graduação não resultarem em lucro para as instituições privadas, esses são facilmente fechados, conforme presenciei, recentemente, com um doutorado possuidor de excelente avaliação, em minha área de atuação profissional. Assim, outra pergunta emerge: a observância das regras do mercado não teria limites? Desprovidas do lucro desejado, inúmeras faculdades ou universidades privadas encerraram a oferta, por exemplo, da Licenciatura em Pedagogia. Se as instituições públicas seguirem essa lógica do mercado, quem formará os professores para as escolas básicas? Por que as instituições privadas têm tanto interesse em oferecer cursos de Medicina com mensalidades caríssimas? Estariam interessadas em absorver os egressos das escolas públicas? Seria compromisso com a saúde dos brasileiros, ou melhor, dos menos favorecidos esquecidos às margens da sociedade? Esses são dois casos ilustrados, mas, certamente, representam outros! Muitas vezes, o investimento em pesquisa trará expressivos resultados em longo prazo e não necessariamente para as próprias universidades ou pesquisadores.

Por fim, a extensão permite que as universidades realizem atividades na comunidade externa. Ao responder diretamente algumas demandas sociais a partir de ações de extensão, as universidades se aproximam mais da população. Faz-se necessário fortalecer o investimento nessas últimas atividades, pois, diferentemente das pessoas que têm a oportunidade de integrar a comunidade universitária, muitos brasileiros ainda desconhecem o relevante trabalho dessas importantes instituições de ensino, as quais, no Brasil, são as principais responsáveis pela produção de conhecimentos ou de tecnologias, necessários à sobrevivência humana.

Finalmente, insisto na pergunta inicial, deixando democraticamente a resposta por conta dos leitores: quem ganhará com o desmonte das universidades públicas?