É quase certo que os açougues, feiras e padarias ou o mercadinho da esquina desconheçam que partidos políticos tem até depois de amanhã para fazer convenções e escolher candidatos.

Preocupadas em fazer algum dinheiro para comprar pelo menos o arroz, as pessoas elevadas ao posto de excelentíssimo eleitor nos próximos sessenta dias não deixam de enxergar, com efeito, o vai-e-vem dos políticos como apenas mudança de posição de peças no clubinho daqueles que tem se enriquecido, em larga medida, no lero-lero. O conhecido 171 político.

É tudo igual, devem concluir com pouca margem de erro aqueles que escorrem suor por comida, como é reduzida também a probabilidade de, regra geral, não acertarem nos conceitos sobre pessoas que fazem da política partidária meio e modo de vida.

No final, pragmaticamente, numa mera relação de causa e efeito, cada um terá o seu butim, muito embora os inimigos advindos desse exercício de prática polítca, tanto circunstanciais como consequentes, a serem saqueados a título de premiação, representassem não os adversários entre pares e ímpares, mas essa população que não quer saber de política. Até mesmo por não dispor de tempo e paciência para entender aquilo que seus ditos representantes tentam convencer-lhes ser o melhor quando piora sua vida todos os dias.

Se puxássemos mais um pouco, é provável que os cidadãos de bem tratassem as altercações e alterações da pré-campanha, as idas e vindas ideológicas e partidárias, como simples safadeza mesmo de que tanto correm e rezam para que seus filhos fiquem longe. Afinal, até na guerra existem honra e regras a regularem carnificinas produzidas por políticas e políticos.

E que, consequentemente, será prolongada, rendidos vencidos a vencedores, para os quatro próximos anos mexendo no seu ganha pão. Seja na forma de impostos ou leis nos quais, em grande monta, a população é incluída tão somente, não raro, como elemento multiplicador de patrimônio dos incluídos pelas urnas na exata proporção da subtração de liberdades, regulamentos morais e éticos e condições dignas de sobrevivência. 

Fato indiscutivelmente comprovado no um milhão de tocantinenses que dizem ter renda mensal per capita de até R$ 200,00 (16% do salário mínimo e 84% da população economicamente ativa/PEA/PNAD/IBGE/Ministério da Cidadania/Cadastro Único) para orçamentos públicos estaduais no último quadriênio (promessa eleitoral estadual mais recente) de algo próximo de R$ 40 bilhões.

Dinheiro sugado na forma de impostos cobrados no bolso de sua excelência o eleitor. Números que, se não justificam, apontam indícios da constante geométrica do crescimento patrimonial de representados e representantes, identificando, indiscutivelmente, cavalgados e cavalcantes.

No popular: parlamentares mais bem pagos do planeta (The Economist), como os deputados federais, estaduais e senadores que no Brasil recebem vencimentos superiores ao do Presidente da República. E que é só mais uma renda do exercício do cargo. 

Ou seja, para padarias, açougues e feiras, a disputa desta semana (a mais amplificada) entre Irajá Abreu e Osires Damaso pela cabeça de chapa, por exemplo  - assim como as demais semelhantes - às vésperas das convenções dos partidos de ambos, quando até dias atrás estavam juntos até a morte, não é só divergência de projetos de interesse da comunidade que banca a brincadeira. 

Renda por renda, moral e ética por moral e ética, os cidadãos preferem, tudo indica, levar as preocupações da classe política como briga entre pares por maiores ganhos. E que, no limite, favorece o descaso com que a população já os trata. 

Os políticos entendem essa anomia política da população – observada nas feiras, padarias e açougues às vésperas das convenções - como indicativo de que estivessem na trilha certa. Pode ser o contrário. Basta conferir o crescendo dos índices de abstenção, voto nulo e em branco  que foram de 25,16% (2006), 26,76% (2010), 29,03% (2014) e 29,12% (2018).