Luiz Armando Costa

Os dados da PNAD contínua trimestral divulgados ontem pelo IBGE revelam que, se a taxa de desocupados no Estado caiu de 11,4% (2º trimestre) para 10,5% (3º trimestre), ela persiste incompreensível para um PIB per capita de R$ 24 mil e 800 da previsão governamental para 2020. Ou os R$ 23 mil e 500 do PIB per capita de 2019 já quase fechando.

Não é crível que um Estado com essa pujança e com uma população economicamente ativa de 1 milhão e 234 mil pessoas, tenha apenas 646 mil delas ocupadas e registre um exército de 512 mil pessoas fora da força de trabalho.  Ou que 106 mil pessoas tenham um rendimento médio diário do valor de um refrigerante em lata, conforme o próprio IBGE, para pagar escola, comida, remédio, ônibus, beber água e ter energia elétrica.

Os números dos fora da força de trabalho no período são certo modo encobertos eufemisticamente pelos 76 mil desempregados da estatística oficial, que são apenas produto da subtração dos ocupados daqueles registrados na força de trabalho (os empregados e os que foram demitidos) que somavam 721 mil entre julho e setembro.

Como não anotar que deste 646 mil ocupados, o IBGE encontrou 140 mil empregados no serviço público e dos 256 mil empregados no setor privado, um número de 114 mil não tem carteira assinada, sobrevivendo, portanto, à margem dos benefícios sociais. Ou que 161 mil trabalham por conta própria.

Pior: esse pessoal sem carteira de trabalho teve seus rendimentos reduzidos de julho a setembro em 8,8%. Se formos mais adiante, os trabalhadores domésticos sem carteira, ganhavam em setembro 15,4% a menos que no segundo trimestre de 2019.

Enquanto os empregados do serviço público viram seus salários aumentarem 65,4%. Ainda que o militar e funcionário público estatutário tenham tido redução de 8,6% nos vencimentos e representem apenas 57% dos servidores públicos, a diferença não é irrelevante.

É visível a distorção social num Estado cuja matriz econômica proporcionou só de exportações de commodities o equivalente a R$ 4,9 bilhões (na cotação do dólar de hoje) em 2018 e já resultou em uma movimentação de R$ 3,8 bilhões de janeiro a outubro deste ano. Só de exportações.

Mesmo com isto aí, ainda que a taxa de desocupação tenha caído de 11,4 para 10,5 no terceiro trimestre de 2019, os números indicam que estamos piores que no terceiro trimestre de 2018, quando os números do IBGE apontavam uma taxa de desocupação de 9,8.

Neste período, convém não esquecer, o PIB passou de R$ 32 bilhões em 2018 para os R$ 37 bilhões de 2019 e os R$ 39 bilhões estimados para 2020. Um crescimento econômico, pelo menos nas estatísticas, na casa dos 22%. E com ele, elevam-se os orçamentos públicos.

E não há no horizonte qualquer ameaça de política pública para reverter essa tendência perversa de, na mesma proporção do aumento da riqueza, crescer, inversamente e desproporcional, a incidência da pobreza. Como se os pobres impulsionassem os ricos a ficarem mais ricos. E estes dependessem de que os pobres ficassem mais pobres. De forma que quanto mais riqueza, tenhamos mais desempregados.