Marcus Mesquita
comunicólogo pós-graduado em Jornalismo Cultural

Tem tempo que não apareço por aqui e, desta vez, eu abordo uma velha novidade. Este par de palavras se justifica à medida que o “velha” fica por conta do filme “Bill e Ted: Encare a Música”, lançado em novembro de 2020, enquanto a “novidade” à recém-apresentada [isto em uma contagem contextualizada em frequência de quebras de paradigmas científicos] contraproposta reflexiva do físico britânico Julian Barbour sobre a compreensão da expansão do Universo.

É aqui que, imagino, a pergunta “e o que é que uma coisa tem a ver com a outra?!” inicia morada na sua mente. Então, vamos lá; eu explico...

Oitentista, saudosista e “roquista” que sou, procurei, recentemente, pela terceira obra cinematográfica dos amigos Bill Preston e Theodore Logan esperando nada além de um cômico entretenimento fílmico nostálgico, visto a evidente proposta de humor nonsense repleto de referências históricas e musicais desta continuação e das produções anteriores, datadas de 1989 ["Bill & Ted: Uma Aventura Fantástica"] e 1991 ["Bill & Ted: Dois Loucos no Tempo"].

Entretanto, ao terminar de assistir ao filme eu me deparei com uma mensagem que vai ao encontro do que acredito e pratico: não há heróis salvadores do Universo senão nós mesmos, em coletividade sociocêntrica. E tem mais: é na união harmônica do diverso em altruísmo que nos salvamos, não nesta doentia busca bipolarizada por criar e alimentar mitos ambidestros.

Para mim, enquanto for majoritária a aceitação de um preguiçoso olhar dicotômico [conveniente para jogos de poder; convenhamos] de que só há esquerda ou direita, encima ou embaixo, é a nossa esperança de melhorias existenciais que é dragada e se vai... e, talvez, nem volte.

No “Encare a Música”, fica evidente que os sempre bem-intencionados [porém pouco cerebrais] Bill e Ted representam este público idólatra que elege “salvadores”. Para ambos, que se enxergam como os únicos detentores do poder de trazer a mudança que o mundo precisa, isto devido a crenças convencionadas neles enraizadas, somente a eles, enquanto um só, cabe esta missão e a capacidade de concretização da mesma. A boa notícia é: ao contrário da maioria que habita este existir não-ficcional, eles enxergaram o quanto estavam sendo tolos e mudaram de conduta.

Esta mudança é catalisada, justamente, pela percepção de que é a soma de saberes, a diversidade em atuação uníssona é quem salva. E esta astúcia perceptiva é da juventude, se encontra nas gerações mais novas, mais sábias e plurais em conhecimento, como observado nas filhas dos protagonistas, Billie Logan e Thea Preston.

Mães da solução do mal universal, ambas potencializam a aceitação do outro e materializam o almejado amálgama consentido entre a simplicidade contida nas heranças ancestrais e a complexidade preconizada pelos idos atuais. De Grom e Ling Lun; de Mozart a Louis Armstrong; de Hendrix a Kid Cudi, isto que cito é gritado em alto e muito bom som no filme.

E é nesta aceitação, no “sermos excelentes uns com os outros”, como dizem Bill e Ted, é que chegamos ao Julian Barbour, conceituado cientista teórico supramencionado que, ao contrário dos colegas da área, não acredita tanto assim no carma entrópico do Universo, na infalibilidade do agir do caos sobre nós, conceitos preconizados no ramo da física.

Otimista, Barbour crê em uma possibilidade de reordenação universal, de umailimitada conexão reestruturante entre a energia de tudo, que não se dissipa, mas se espalha, se interliga, criando infinitas novas possibilidades menos apocalípticas. E em meio a tanta complexidade, o físico, conforme consta na reportagem de Carlos Serrano, da BBC News, traz nova luz a uma proposta simplória de vida, já até banalizada: “Carpe diem”; “aproveite o momento”, em tradução livre.

Ou seja, a partir desta contraproposta teórica, o britânico instiga um olhar reflexivo sobre um universo mais abstruso, variado, dinâmico e não necessariamente fadado ao caos total, o que pode, inclusive, interferir nas condutas humanas, provocando transformações positivas nas relações interpessoais. Afinal, à Bill e Ted, Julian Barbour acredita que não deve haver perda de tempo, pois “podemos salvar o mundo se as pessoas se acostumarem com a ideia de ser pessoas melhores para os outros"; ideia esta totalmente excelente!