Luiz Armando Costa
 

Vou deslizar o que para muitos pode ser visto como simpatia malévola. Um grupo de  pessoas, dentre elas, jornalistas, desenvolve nas redes sociais uma campanha contra a aquisição do goleiro Bruno pela equipe do Araguacema. Caçula do estadual, o time já tem garantia de exposição no país e até fora dele. 

O Araguacema é um clube privado. Na impossibilidade jurídica de obrigá-lo, pressiona-se pelo que se considera politicamente correto. Mas de forma invertida ou então cumprir a lei seria incorreto e não político. Já pensou se um juiz decidisse por sua vontade política?

 Como é possível deduzir do perímetro da manifestação informada pelos “revoltosos do bem” e que pedem agora apoio dos tocantinenses em seu “mister”, o alcance seria planetário. Não se importando pelo pensamento do receptor de suas mensagens. Essa “liberdade” de que faz uso as redes sociais e watShapp. Se não concordar, você não é politicamente correto.

Bruno Fernandes é aquele que, no auge de sua carreira como goleiro do Flamengo (cotado para a Seleção Brasileira) foi condenado a 22 anos de cadeia pelo assassinato de uma garota (Eliza Samudio) que era mãe de seu filho, com requintes de crueldade. Ainda que na época do crime não houvesse a figura penal do feminicídio, o goleiro é automaticamente jogado hoje sob suas penas. Pouco se importa.

O jogador cometeu ou participou de um crime indiscutivelmente cruel no modo, forma e resultado. As pessoas, entretanto, quando cometem crimes são entregues ao poder público (custodiados) para a ressocialização. No Brasil não há a pena de morte nem a pena perpétua. O cidadão, após pagar sua dívida com a sociedade tem o direito de continuar sua vida, reerguê-la. 

A civilização conseguiu fazer prevalecer o princípio de que o criminoso merece castigo e responsabilização porque podia ter agido de outro modo. E não por raiva devida a um dano sofrido. Raiva que se desafoga no causador. Caso contrário voltaríamos à lei do olho por olho, dente por dente.

A campanha contra o negro Bruno não se dá com a mesma intensidade com que manifestantes esqueceram o branco galã Guilherme de Pádua que assassinou a atriz Daniela Perez. Cito Pádua (mas poderia citar brancos ricos como Doca Street, Lindomar Castilho, Pimenta das Neves e tantos outros) porque foi beneficiado pelo mesmo direito que deu nova oportunidade a Bruno, produto da progressão de pena prevista no Código Penal e aplicada aos dois pelo Supremo Tribunal Federal. 

Ou os manifestantes estariam contra a progressão de pena? Conviria mobilizar parlamentares para eliminá-la. Ou os criminosos, depois de cumprirem pena, não teriam direito a buscar trabalho, reconstruir sua vida com os instrumentos de que dispõe. Então sugere-se uma cidade só de ex-criminosos, ainda que a turma possa pensar que criminoso sempre será criminoso.

Como a família de Eliza Samúdio, talvez não conseguisse perdoar Bruno Fernandes. Mas o Estado o liberou e, por tal, tem o direito, como qualquer um, de recomeçar sua vida após o cumprimento da pena autorizado pelo benefício.
De forma que o boicote que se faz a Bruno (não só no Tocantins mas em outras unidades da federação) termina se transformando numa pena privada adicional ao goleiro pelo crime que cometeu. O se quer transformar Bruno e seu peso numa bandeira.

Uma pena que, pelo princípio exposto, só se extinguirá com a morte do jogador. Um final que o Estado (e a sociedade por seus representantes) não determinou a Bruno. Pelo contrário, o incentivou a continuar a vida, cumprida a pena, em qualquer circunstância e setor que o acolha. Como sabe é jogar no gol, é lá que deve buscar seu sustento.

Mas o pessoal quer é jogá-lo fora do planeta ou cometendo mais crimes na terra mesmo para sobreviver na marginalidade para onde os tais manifestantes insistem em empurrá-lo. E se mantém a pergunta sobre moral e ética, crime e castigo. Poderiam simplesmente deixarem o Bruno trabalhar em paz já que pagou por seu desvio.