Como não tenho vasto vocabulário, tampouco sou boa conhecedora dos fatos que marcam a história de nosso povo, recorro ao dicionário para conhecer e compreender algumas situações que me aparecem e, por incrível que pareça, escandalizam e revoltam.

Hoje senti enorme necessidade de conhecer a etimologia e uso histórico da palavra CENSURA. De acordo com o dicionário, trata-se da “ação de controlar qualquer tipo de informação, geralmente através de repressão à imprensa”.

Para o site Politize, censura é considerada “uma ação de desaprovação e cerceamento de algum conteúdo de determinada mensagem (artística, jornalística e  etc) e possível retirada de circulação pública desse conteúdo, geralmente atrelada à justificativa de proteção de interesses de um grupo ou indivíduo”.

Conceito e contexto de uso investigados, quero compartilhar uma experiência de censura em pleno século XXI, praticada pelo Estado no suporte virtual.

Ao ser convocada para participar de uma Live comemorativa ao dia do professor, evento esse organizado pela Secretaria de Estado da Educação Juventude e Esportes do Tocantins, cheguei à sala virtual da palestra já com dedos posicionados na frente do teclado para registrar minha presença enquanto professora aqui do Bico do Papagaio. 

Para minha surpresa e de todos os mais de 500 profissionais que também acessaram o link/convite, hoje tivemos uma novidade: o chat para interação com o público foi DESATIVADO para a transmissão ao vivo, organizada e tão anunciada pela Seduc.

De todos os eventos já realizados pelo órgão nesse contexto digital, esta é a primeira vez em que registrar nome, escola e cidade de atuação não foi considerada parte importante do evento. 

O motivo? Poderia até ser ingênua em ignorar. Mas meu papel social me impele a questionar. Após cerca de 10 dias de divulgação, o evento antes a ser realizado de forma presencial, foi alterado às pressas na véspera de sua realização, nesta quinta-feira 21 de outubro, porque seu anfitrião teve um conflito de agenda. 

É que, enquanto colegas já estavam de mala pronta para percorrer mais de 600 quilômetros até a capital e prestigiarem presencialmente a homenagem aos professores, o governador do estado, era acordado pela Polícia Federal. 
Então, não sejamos intolerantes! (contém ironia)

Com a dança das cadeiras, que mais uma vez foi realizada, ainda que temporária, no Palácio Araguaia na última quarta, caiu por terra o clima para falatórios sobre como os professores são importantes para a sociedade e aplausos acalorados dentro de um auditório. Embora toda a assessoria tenha preparado o evento conforme rege o protocolo, como disse uma colega de trabalho, esqueceram de combinar com a PF a agenda da autoridade. 

Até aí tudo bem, as tecnologias da Informação e Comunicação na modernidade líquida de Bauman hoje nos permitem fazer mudanças muito rápidas. E, partir para o formato remoto por plataforma virtual para garantir a realização do evento foi uma escolha acertada no momento de crise que se abateu sobre os departamentos situados na Praça dos Girassóis. 

O que questiono é tão somente a decisão de censurar a participação do público através do chat para comentários sobre o que se apresentou durante cerca de duas horas entre discursos e palestras. Também não pudemos enviar perguntas, o que empobreceu a aquisição de novos saberes.

Como cidadãos e servidores, somos civil e moralmente capazes. Na escola, com os professores que nos antecederam, aprendemos sobre honestidade, respeito e ética. Assim como rege a lei, também no suporte digital, somos responsáveis por nossos atos.

O que temiam os organizadores do evento? Que comentários quiseram evitar? Por que cercearam nosso direito à voz? Essas, caro amigo leitor, são perguntas para as quais não tenho resposta.

Quero deixar claro que não sou juíza e não estou acusando ou julgando pessoa alguma de nenhum crime. Conforme a decisão judicial que motivou esse episódio aqui comentado, bem como as informações da imprensa, são acusações fruto de investigação da autoridade competente, a quem cabe a apuração dos fatos.

A nós, cidadãos, eleitores e participantes de eventos sociais como o de hoje, resta ter leitura atenta, reflexiva, fundamentada em fontes comprometidas com a verdade. E cabe a nós, tão somente a nós, não tolerar censura ao direito de expressão de onde ou de quem quer que venha.

Como diz o Politize, “ao falar de censura devemos lembrar da influência do poder, ou seja, é preciso entender que, ao longo da história o poder (na maioria das vezes, o político) é o responsável por ditar a censura”.

Na comemoração ao dia dos professores, os professores não tiveram voz.