José Lauro Martins 
Doutor, professor adjunto do Curso de Jornalismo (UFT) do Campus de Palmas
 
O mundo é cheio de surpresas! Quase tudo pode ser novidade para alguém. Portanto, se partimos do princípio da novidade tudo pode ser apresentado como inovação. Todavia, sabemos que nem tudo que é parece novidade de fato é uma inovação. Não vamos entrar na conceituação de inovação, mas basta entender que algo para ser considerado inovador precisar romper, ainda que em parte, com aquilo ou o quê se pretenda inovar. Não basta passar uma pintura na casa para torná-la nova, mas podemos fazer uma transformação e mudar radicalmente o uso da moradia. Mas ela sempre estará no mesmo lugar e a sua estrutura permanece. Às vezes não há reforma possível para torná-la da forma necessária, nesse caso, é só a construção de uma nova casa.
 
Vamos pensar os desafios atuais da educação usando a analogia acima. Os ajustes na educação para atender as necessidades da sociedade acontecem sempre, não está errado, nem sempre precisamos mudar tudo. Nesse caso basta pequenas reformas ou apenas um ajuste legal. Inclusive vamos ver o que diz o artigo Art. 205 da Constituição Nacional: “A educação, direito de todos e dever do Estado e da família, será promovida e incentivada com a colaboração da sociedade, visando ao pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho. ” 
 
As mudanças sociais nos últimos 50 anos foram muito grandes, em particular nos últimos 20 anos. A que mexeu em todas as estruturas sociais foi a internet. A mudança foi radical principalmente nos suportes de comunicação. Saímos do telefone analógico para o smartphone, do livro impresso para o livro digital, os podcasts e os vídeos podem ser gravados e editados na própria rede virtual. Podemos gravar áudio ou vídeo de forma mais simples que digitar um texto. Em um toque podemos publicar nossa opinião em uma rede social. 
 
Os livros impressos traziam uma certa segurança na informação, até porque haviam diversos filtros para até a publicação. Um ritual que tornava-o algo importante como veículo de informação. Bem, com a Internet e a possibilidade de disponibilizar os conteúdos de forma imediata, o único filtro que permanece necessariamente é o bom senso do produtor do conteúdo. Obviamente que ainda temos, ainda bem, veículos de informação que reconfiguraram seus filtros e publica aquilo que rigorosamente atende as necessidades da sociedade. É o caso particular da publicação científica, além dos filtros técnicos e éticos que os cientistas auto submetem, para a publicação também submete a revisão por pares à cegas para aprovação da revista acadêmica.
 
A sala de aula já foi um lugar sagrado! Lugar em que as pessoas tinham acesso às informações que possibilita a construção do conhecimento. Com a popularização dos livros, o professor e o aluno pode ter acesso a mesma leitura, nesse caso o professor divide com o livro no papel de veículo de informação e com o aluno papel de intérprete das informações. Se por um lado dividiu o papel do professor e por outro trouxe mais responsabilidade para a docência. Com a inserção da internet não apenas o papel do professor altamente influenciado como também a escola. O professor sai do lugar do “sabe tudo” para alguém desconhece parte das informações que os estudantes sabem e interessa para aprendizagem. 
 
A sala de aula virou um problema. Pois quase tudo que se pode ensinar na forma de uma aula expositiva está na Internet. Isso não é problema se a escola e a sala de aula for um lugar agradável que o aluno tenha vontade de frequentar. Agora se for necessário reprovar por frequência para que o aluno vá escola, daí sim a escola está como problema. Em 1992 quando comecei a lecionar na educação básica, percebi que tinha uma concorrente forte: as apostilas de cursinho! Hoje, simplesmente não há como competir com as redes virtuais na distribuição de conteúdo. Veja, nas aulas que a docência restringir a distribuir conteúdo, precisa do professor. O jovem vai encontrar dezenas de vídeos para assistir em seu smartphone de perna pra cima e tomando sorvete, em vez de estar em uma sala barulhenta numa organização totalmente artificial que o estudante não reconhece. 
 
Nosso desafio é organizar a educação escolar, seja na educação básica ou no ensino superior, para que atenda as demandas sociais. Não adianta rompantes dantescos contra o uso das tecnologias digitais, nem culpar os alunos pelo fracasso. São estes o jovens que temos e é nosso papel arrumar a casa. Nesse modelo de organização guiado pelos ditames da gestão do ensino crava a escola como um lugar de ensinar e o professor é o centro do processo. Não seria melhor se a escola fosse um lugar de aprender e o professor fosse o guia no processo de aprendizagem?  Pois é, mas sabemos que mudar o centro do processo não é fácil! Porém, o modelo atual está esgotado e não atende as necessidades da sociedade. É hora de algo sair da frente para algo no passar.