José Lauro Martins
Doutor, professor adjunto do Curso de Jornalismo (UFT) do Campus de Palmas
 
Ficou bem claro nesta pandemia quanto as universidades estão despreparadas para atender seus estudantes nas demandas emergenciais. Não é por falta de programas de atenção acadêmica nem de mentes brilhantes, mas o modelo é tão rígido e burocrático que não permite adequar a realidade quando esta exige. O que podemos fazer? 
 
Bem, não há apenas um modelo apenas. Penso que para boa parte dos cursos atenderem as necessidades da sociedade contemporânea não precisaria de mudar nenhuma lei, bastaria apenas uma organização curricular flexível. 
 
Propomos um modelo que pode ser adaptado a qualquer área, é uma questão de entender as necessidades da sociedade e apropriar das informações científicas e legais disponíveis na Internet.  Alguns princípios norteiam nossa proposta: 1- Menor tempo de formação inicial e formação permanente agregada a graduação; 2- uso intensivo das tecnologias digitais; 3- organização pedagógica adaptativa; 4-intensa atividade de pesquisa na graduação.
 
Vamos pensar a partir de um curso tradicional de 4 anos e dividimos em pelo menos 2 partes.
Formação básica com titulação - 2 anos aproximadamente
Formação técnica 1- 1 ano. 
Formação técnica 2... - 1 ano. 
 
Se for um curso para docência, para cada formação técnica agrega-se um período de formação prática docente supervisionada.
 
O estudante ingressaria numa área ou em um curso e estudaria um período de formação teórica pesada que exige forte dedicação. Nesse período ele precisa aprender duas coisas: a estudar e a teoria que fundamenta a área escolhida. Menos aulas teóricas e mais desafios de aprendizagem pela pesquisa. Os conteúdos disponíveis em plataformas virtuais e atividade programadas e com tempo previsto apenas como referência. Se o estudante consegue atingir os objetivos em menos tempo, ótimo! Se precisa de mais tempo, é porque não atingiu todos os objetivos. 
 
Os conteúdos não precisam das caixas que chamamos de disciplinas, vamos organiza-los por tópicos com objetivos bem definidos. Mas cada tópico é essencial, não precisa nota, pois 100% do previsto precisa ser aprendido. 
Vencido todos os objetivos da formação básica ele pode ser titulado. Mas não tem nenhuma formação técnica, não tem autorização qualquer para o mercado de trabalho. A partir da formação básica ele pode ingressar na etapa de formação técnica. Nessa etapa ele vai aprender uma forma aplicação do que fora aprendido na formação básica. Vamos estabelecer um prazo para considerar como continuidade nos estudos, talvez um ou dois anos entre a conclusão de um curso e o ingresso em outro.
 
Imaginemos o curso de Comunicação Social (sei que o Sindicato dos Jornalistas não vai gostar nem um pouco da minha sugestão!). Concluído o curso de formação básica para Comunicação Social, o aluno percebe que não é sua praia a formação para a pesquisa ou não pode manter-se na universidade. Seria um candidato a evadir-se. Mas, imaginem que esse estudante seja contratado para cuidar das mídias digitais de uma empresa.
 
Está aí um bom motivo para voltar para universidade, agora não precisa mais de processo seletivo, para formação em Mídias Digitais (1 ano aproximadamente). Ele já está inserido no mercado de trabalho, não é um aluno evadido, nem daqueles que levam muitos anos para concluir o curso por falta de tempo. Ou seja: ganhou o estudante, ganhou a universidade e ganhou a sociedade. 
 
Se esse estudante quiser em trabalhar na próxima campanha eleitoral e pode-se matricular-se no curso de MARKETING ELEITORAL (1 ano aproximadamente) que pode ser oferecido em parceria por mais de um curso de graduação. Bem, o candidato para o qual trabalhou foi eleito, que tal agora estudar Assessoria Política? Ou seja, esse pode ser um estudante permanente da Universidade com nova titulação a cada etapa cumprida. Pode retornar várias vezes para formação técnica diferente ou complementar que ajudaria a mantê-lo atualizado para o mercado profissional. 
 
Agora imaginemos que um estudante entenda que tem perfil acadêmico e quer concluir a graduação acadêmica: nesse caso ele vai fazer o ciclo completo do curso e em 3 anos poderá diplomar-se bacharel em Jornalismo!
 
Pois bem, podemos implantar um sistema assim com os mesmos professores do curso, mas com uma organização curricular flexível que o torne bem mais interessante para a sociedade. No caso da sugestão acima, não precisaria de nenhuma mudança na lei. Mas se considerarem que é uma mudança muito radical abolir o sistema de disciplinas e notas, ainda assim dá para montar o modelo proposto. Simplesmente organizado de forma criativa, flexível e responsável o currículo do curso. Assim um mesmo curso poderá oferecer diversa etapas de formação e ambientada a sociedade contemporânea. 
 
Esse modelo poderia trabalhar com cursos parceiros. Imaginem que um estudante que concluiu a formação básica em Comunicação possa cursar a formação técnica oferecida no curso de Administração, ou um curso de ‘comunicação em saúde’ oferecido no curso de medicina… 
 
Claro que este é um modelo que precisa de muito cuidado na sua implementação, mas seguramente pode ser flexível no tempo, reduzir a evasão e, se quiser usar o jargão mercadológico, fidelizar o estudante. Quanto aos custos, penso que reduziria o custo/aluno para as universidades públicas, pois diminuiria a evasão e aproveitaria melhorar a estrutura física disponível e com os mesmos professores.
 
Nossa intenção com essa reflexão foi chamar a atenção da sociedade para as mudanças necessárias na educação escolar para que nossos jovens interesse mais pelos estudos que pelas redes sociais. Eles não estão errados, somos nós que não entendemos as necessidades dessa geração. Um fato objetivo na academia e a ínfima participação de organizações da sociedade civil na universidade. Raramente tem-se demandas objetivas, quando há, está pulverizada pelos diversos agentes ou canais, poucos ficam sabendo e dificulta a tomada de decisão. Se houvesse um bom grupo da sociedade civil que participasse das reuniões do Conselho superior da Universidade entenderiam de forma clara o que dissemos.
 
A universidade pode oferecer bem mais que cursos de graduação tradicional, pesquisas que raramente a sociedade ficam sabendo e algumas atividades de extensão. Mas precisa ser provocada, desafiada, contestada em seu território. Creio que a participação forte da sociedade civil nos conselhos e colegiados traria um benefício bem grande para a Universidade.