Carlos Alberto Di Franco

é jornalista

O leitor, estou certo, é o melhor termômetro para medir a temperatura da opinião pública. Tomar seu pulso equivale a uma pesquisa qualitativa informal. Em meu último artigo neste espaço opinativo defendi o conceito de jornalismo propositivo: aquele que não fica na denúncia, mas avança no terreno das soluções. Aposta na análise aprofundada, no debate plural e no diálogo civilizado.

Pois bem, para além da repercussão nas redes sociais, sempre viva, intensa e animada, recebi diretamente 204 e-mails. Uma bela amostragem de opinião pública, sobretudo considerando a diversidade etária, geográfica, profissional e social dos remetentes. Faço questão de dar publicidade ao meu e-mail. O respeito aos meus leitores e o desejo de ouvir suas opiniões, sugestões e críticas é algo profundamente enriquecedor.

Um denominador comum saltou diante dos meus olhos: os leitores estão cansados de narrativas enviesadas e querem apuração factual rigorosa. Sobretudo pedem diálogo, discussão aberta e propositiva. Reproduzo aqui, honrado, e-mail do doutor Raul Cutait, professor da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo e cirurgião do Hospital Sírio Libanês.

“Ao ler seu artigo no Estadão, ocorreu-me imediatamente a analogia do jornalismo propositivo com a atividade médica. O jornalismo em busca das verdades e dúvidas, da informação, do que aflige e do que conforta, do que anima e traz esperança, equivale à busca de um bom diagnóstico. Assim como este deve ser seguido de propostas ou medidas terapêuticas, creio que o jornalismo propositivo, como bem colocado em seu artigo, sempre que possível deve fazer parte do ‘pacote’. Aliás, acredito que atualmente, mais do que nunca, a imprensa escrita é valorizada por articulistas que não só escrevem sobre os acontecimentos, mas propõem caminhos ou soluções para os temas abordados”. Falou tudo. Acrescentaria que tal demanda de soluções deve ser ofertada em todas as plataformas.

A crise do jornalismo está ligada à falência da objetividade e ao avanço do subjetivismo engajado. Quase sem perceber, alguns jornais sucumbem à síndrome da opinião invasiva.

É preciso apostar na informação. Sentir o cheiro da notícia. Persegui-la. Buscar novas fontes e encaixar as peças de um enorme quebra-cabeças para apresentá-lo o mais completo possível.

Nunca se pôs em xeque o papel essencial do instinto jornalístico. Nem eu pretendo fazê-lo agora. Como já venho reiterando há tempos neste espaço, apenas essa vibração será capaz de devolver a alma que, por vezes, percebo faltar ao trabalho

das redações. O que quero é acrescentar um aspecto que julgo importante nesta discussão: na era digital, a intuição precisa ser bem fundamentada.

Consumidores de jornais mostram cansaço com o excesso de negativismo de nossas matérias. Trata-se de um fato percebido nas redes. Ao longo deste ano, alguns jornalistas da grande mídia, sobretudo na cobertura de política, em nome de suposta independência, têm enveredado excessivamente pelo que eu chamaria de jornalismo de militância. E isso não é bom.

Precisamos olhar para nossas coberturas e questionar-nos se há valor diferencial no que estamos entregando aos nossos consumidores. Impõe-se um jornalismo menos anti e mais propositivo.