Recebi o e-mail de um amigo de longa data manifestando sua satisfação com os novos donos da faculdade na qual ele leciona há mais de duas décadas.

“[...] tudo indica que finalmente a família, proprietária da instituição, será retirada dos cargos de direção”, disse meu amigo; que chamarei de Manoel, para, assim, preservá-lo das críticas que, porventura, possam ocorrer. Mais adiante, Manoel explicita a razão de seu entusiasmo com a nova “filosofia” oriunda da sede da instituição lá em Curitiba.

Na palestra com os professores, o novo diretor usou e abusou de termos gerenciais próprios da administração e economia. Desse modo, a nova estrutura organizacional, mais ágil e enxuta, elevará os ganhos de produtividade. Será implementado um Plano Estratégico capaz de mensurar os ganhos de gestão, que, certamente, a instituição terá. “Acabou-se aquela  exageração de preenchimento de diários escolares que tanto nos aborrecia. Além disso, aquelas intermináveis reuniões burocráticas estão com os dias contados”, assim relatava, entusiasticamente, Manoel, o meu amigo.

Perante esse relato, com o qual, no meu íntimo, não concordei, preferi calar-me para não desanimar o bom e ingênuo Manoel. Previ que não duraria muito o seu entusiasmo. Ele, certamente, decepcionar-se-ia com esse novo modelo, que reduz o nobre ato de educar a uma mera empresa movida pelos conceitos de lucratividade, produtividade ou, até mesmo, pela relação custo-benefício.

Decididamente, a escola não é uma empresa! Sua função é muito mais ampla que isso. A verdadeira educação forma o cidadão para que ele possa atuar como sujeito do processo histórico. Nessa condição, enquanto intelectual, dispõe o cidadão de dois instrumentos que o permitem atuar na realidade — a crítica e o elogio.

Passados tão somente 3 meses, Manoel foi um dos 50 professores vítimas de algo que elevaria consideravelmente os ganhos de produtividade da instituição que o empregava: o chamado ensino à distância via internet. Nesse contexto, a rede integrava um número considerável de alunos dispondo, para tanto, de um pequeno número de professores. Sendo assim, os consideráveis ganhos de produtividade foram decisivos para o excepcional lucro que teve a instituição.

Os fatos supraenumerados se mostram verídicos neste imenso país chamado Brasil. A educação brasileira, repleta de equívocos, apresenta-se relutante ao neoliberalismo educacional que enriquece os donos de grandes escolas, sendo estas verdadeiras fábricas de diplomas responsáveis pela inclusão marginal no mercado de trabalho. O preço a pagar por uma formação de baixa qualidade é o  dono de diploma de curso superior trabalhando na Uber, no caixa de bancos e, inclusive, em padaria. Enquanto isso, os integrantes da elite bem-formada viram banqueiro, presidente de multinacional, ministro de Estado ou, até mesmo, consultor de renome. Coisas de um tipo de país que se desenvolve sem dar oportunidades a seus cidadãos.

Salatiel Soares Correia
é engenheiro, bacharel em Administração de Empresas, mestre em energia pela Unicamp. É autor, entre outras obras, de A Energia na Região do Agronegócio.