Norman Gimbel, autor da letra em inglês de "Garota de Ipanema", de Tom e Vinicius, morreu dia 19 último, na Califórnia. Ganhou mais dinheiro com a canção que se tornou "The girl from Ipanema" do que Tom e Vinicius juntos. Por uma razão simples: assim que é publicada por uma editora musical americana com letra em inglês, uma canção se torna, para o resto do mundo, americana. É bom para seus autores originais, mas é melhor ainda para os americanos.

Gimbel era um dos profissionais a quem as editoras repassavam canções estrangeiras com potencial de sucesso para receber letra em inglês. Outros eram Ervin Drake, que letrou "Tico-Tico no Fubá", de Zequinha de Abreu, e S. K. Russell, que letrou "Aquarela do Brasil", de Ary Barroso.

Mas ninguém supera Ray Gilbert. Ele letrou "Na Baixa do Sapateiro", de Dorival Caymmi, "Carinhoso", de Pixinguinha e João de Barro, "Baião", de Humberto Teixeira e Luiz Gonzaga, "Berimbau", de Baden Powell e Vinicius, além de "Dindi", "Ela é Carioca", "Inútil Paisagem", "O Amor em Paz", "Por Causa de Você" e "Bonita", todas de Jobim com parceiros. Norman Gimbel também não se deu mal. Só de Tom, ele letrou "Sabiá", "Insensatez", "Meditação", "Água de Beber", "Só Danço Samba", "O Morro Não Tem Vez" e, claro, "Garota de Ipanema", além de "Samba de Verão", de Marcos e Paulo Sergio Valle, e muitas mais da bossa nova.

E, então, vem a mutreta. Ray Gilbert tornava-se editor das músicas que letrava, o que lhe garantia 50% dos direitos gerais e, como letrista, mais 1/3 dos restantes 50%. Isto lhe dava 66, 6% sobre cada canção, restando 16, 6% para Tom e outro tanto para o letrista brasileiro. Já Norman Gimbel não era editor.

Talvez por isso, quando Tom morreu, em 1994, ele tenha registrado "The Girl from Ipanema" só em seu nome, o que a família Jobim levou anos para reverter.

Norman, meu chapa, que a terra lhe seja leve, com o Pão de Açúcar por cima.