Intuo que já exista um movimento em curso que pode levar as redes sociais ao que nunca deixaram de ser: lugar de fofocas e mexericos. No que é uma pena. Não sem razão, a maioria dos políticos (raríssimas exceções à parte) encontrou nelas porto seguro para o que já faziam antes delas: fuxicos e mais fuxicos.

Busque aí um assessor sério de político que não confirme que seus assessorados dão mais valor aos conselhos auriculares e passionais das lideranças políticas que dizem ser suas do que a fundamentos e princípios. 

De outro modo: a validade do argumento é auferida e conferida pelo suposto número de votos que poderá granjear-lhes os vaqueiros, cada um, claro, com seu interesse particular. E menosprezo à verdade. Um relativismo tão demagógico quanto prejudicial à democracia que os sustenta e os garante.

Daí os políticos cada vez mais ganhem as redes sociais, adentrarem as redes particulares, para levar adiante a sua mensagem. É como se fuxicassem com suas lideranças no interior do Estado, de preferência num boteco ou num flutuante de beira de rio. 

Sem pedir-lhes autorização, lá estão a encher Instagram, Facebook ou Twitter, vendendo o seu produto, não raro, podre.  Ou seja, aumentando o número de vaqueiros, mas oferecendo produto não muito indicado para consumo. Já presenciei político com mandato proclamar que prefere as redes a ter suas propostas explicadas por jornalistas de veículos públicos, ainda que privados.

O problema não é das redes. E sim da forma como ela tem sido utilizada pela sociedade política que, por óbvio, puxa a sociedade civil (especialmente a desinformada) para o esgoto. Quando o meio democrático das redes poderia ser canal de informação segura cujo interesse se acomodasse à transparência e verdade. Sem mexericos da Candinha.

Duas possíveis e previsíveis reações proporcionais ao tempo e à mensagem: 1) fora a militância, a mensagem pode encher o saco do usuário das redes, como já se dá e 2) a mensagem não teria efeito positivo dada a certificação partir do próprio interessado na publicação. Sem contraponto.

A reação motora decorreria, certamente, da falta de relação exterior de causalidade e da presunção de incerteza do objeto e das finalidades. A maioria, entretanto, ainda não percebeu que a autocertificação não lhes aumenta ativos ou acrescenta-lhes resultados.

Não há exemplo mais eloquente no Estado do que a argumentação política e da militância engajada (aí artistas, intelectuais bem formados) contra a concessão de parques estaduais, argumentando a venda do Jalapão quando a lei aprovada e publicada trata de concessão. Aluguel sem tradição (entrega) da coisa.

Pior ainda: entopem as redes sociais com a desinformação de que a concessão atingirá terras de quilombolas e comunidades tradicionais, quando o dispositivo legal aprovado exclui textual e terminantemente essas terras da concessão. Como se nota, o vício do fuxico não está apenas na política.

O degelo da estratégia (inaugurada no país por Jair Bolsonaro) dá sinais de que o vício de repassar informações distorcidas pode estar próximo do final. Que o diga o próprio presidente e sua militância após o discurso de ontem na ONU, desqualificado pela comunidade internacional (e pela civilização) pela narrativa sem escore nos fatos reais.

Poderia ser diferente lá e cá? Poderia! Ninguém é obrigado a pensar igual e ter finalidades iguais e não concorrentes. Mas não concorre para refutar uma verdade colocada, distorcê-la e aos elementos que a subsidiem na sua demonstração fática.

Bolsonaro pelo menos para isto está servindo: escancarar o mau-caratismo dos argumentos de que fazem uso os políticos e seus tributários nas redes sociais.