Luiz Armando Costa

A notícia é boa: os russos decidiram suspender o embargo à carne produzida por um frigorífico de Araguaína que abate 800 cabeças por dia. O país de Vladimir Putin tem participação de meros 0,01% nas exportações do Estado contra os 55,6% dos chineses (R$ 2,3 bilhões de janeiro a novembro de 2019).

Os governadores do Estado, volta e meia, vão prospectar negócios nos EUA (0,5%), Portugal (1,5%) onde esteve Mauro Carlesse há duas semanas e a França, como sonho de consumo (apenas 0,3%das exportações do Estado), por tabela. Já houve aqueles que se dedicavam ao Japão (1,6%). O Prodecer está aí.

Os chineses parecem, por enquanto, ficar só com a carne e a soja (mais palpáveis) que projetos ainda abstratos como incentivar a produção de alimentos que, por hora, o país tem dificuldade para transportar com sua matriz em larga escala rodoviária. Temos projetos de fruticultura (abacaxi, mamão, açaí) exuberantes, mas não temos um terminal de cargas.

Tomando de forma proporcional as grandezas, as exportações do Tocantins vão bem, obrigado: R$ 4 bilhões e 288 milhões só este ano (US$ 1,021 bilhão). Um superávit comercial de R$ 3 bilhões e 642 milhões conforme publicado ontem pelo Ministério do Desenvolvimento Indústria e Comércio Exterior. Ainda que o volume seja 11,78% menor que o total das exportações do mesmo período de 2018. Cerca de 71% das vendas dizem respeito à soja.

Destas exportações, 15% são carne bovina que proporcionaram aos frigoríficos, de janeiro a novembro deste ano, o montante de vendas de R$ 643 milhões (US$ 153,21 milhões).

Um faturamento com um lucro líquido, pode-se inferir, de mesma proporção proveniente do zero por cento de imposto (da Lei Kandir) e do 1% cobrado de ICMS até este ano pelo governo estadual. Contra a previsão de R$ 1 bilhão de ICMS que o consumidor deve pagar até dezembro só na bomba de combustível. E outro tanto na conta de luz.

Os empresários da carne se ocupam, no exato momento, em explicar o quilo do filé próximo de R$ 50,00 nos açougues, esgrimindo justamente o aumento das exportações que implicaria, por pura lei de mercado, dada a oferta e procura, na elevação do preço. Demanda engolindo oferta e elevando o preço.

Tudo indica que o preço será mantido no patamar vigente. Os frigoríficos brigam pela manutenção dos incentivos fiscais. O governo prevê na Lei de Diretrizes Orçamentárias do próximo ano a bagatela de R$ 392 milhões de renúncia fiscal. De outro modo, mesmo com margem menor, vai manter a prebenda.

Os benefícios, como é possível concluir, ao atenderem os exportadores de carne (que dizem que o preço é resultado do aumento da procura pela carne lá fora), seriam, paradoxalmente, o gatilho para a elevação do preço no mercado interno. De outro modo: o contribuinte estaria entregando recursos ao produtor para que ele eleve o preço da carne nos supermercados. Uma situação bizarra. Mas os russos estão de volta. E a coisa cada vez mais ruça.