Determinismo histórico ou destino (improvável por certo o acaso) cuidaram os fatos de apresentar os dados da Fundação Getúlio Vargas ontem, apenas três dias após a passagem do furacão “Caneta Azul” (o entregá ela) pelo Estado, celebrado pelas redes sociais e prefeitos distraídos.

Os números da FGV fotografam que aumentou a concentração de renda no país. Os ricos estão mais ricos e os pobres mais pobres. E como traduzindo o Caneta Azul, os mais ricos aumentaram o número de anos na Escola. Agora, aqueles situados nas classes A e B (com renda acima de 10 mínimos) ficam 13,2 anos estudando contra 8,7 anos da média das demais classes. Uma coisa puxa a outra.

O número daqueles que estão nas faixas D e E aumentou 0,66% no país. Passou de 30,1% (2017) para 30,3% (2018). Ou seja, aplicando, estatisticamente ao Estado, teríamos hoje 476 mil pessoas com renda entre um e três salários mínimos. Um terço da população em um Estado onde algo próximo de 90% dos moradores depende do sistema público de saúde.

Essa turma aí que aumentou estatisticamente é dependente, também, das ações do governo. Tomemos um exemplo contingencial: no Estado, a maioria dos servidores públicos situa-se na classe C e está contribuindo, nas atuais circunstâncias, para que profissionais como médicos e donos de hospitais aumentem a Classe A. E eles próprios sejam despachados para o andar mais abaixo: D e E.

Na segunda-feira, um dependente do Plan-Saúde necessitava de atendimento de urgência. O hospital atendia, mas o médico, não. Os dois setores auferem com o plano R$ 20 milhões a cada 30 dias. Um foguete para a A e B. Pago por aquele que tinha hospital aberto e médico fechado. E insiste em ficar na classe C. No Estado, 32% do PIB vem da administração pública.

Um conluio afinal de que adiantaria o hospital de portas abertas sem médico para atender. Dar à atividade de médico o caráter negocial, é problema ético, moral e financeiro do profissional. Bloqueando, entretanto, saídas ao cidadão, a questão ganha outra natureza. Não só na medicina mas em qualquer atividade.

Mais gravemente se contra um não atendimento (dívida como usuário) existirá um ganho financeiro. Um empurrão indevido ao profissional na sua classe social e um pontapé no usuário para o andar de baixo dos números da Fundação Getúlio Vargas.

O médico, como é notório, auxiliando o hospital a receber suas faturas e mantendo o parceiro para reajustar o valor de suas consultas. Se o Plano decide licitar novos empreendimentos e profissionais, não titubeiam: estão querendo roubar!! Não param por aí: são contra a Medida Provisória do governo federal que flexibiliza as regras do Revalida, para médicos formados no estrangeiro. Não atendem e não deixam atender.

E lá se vão para o andar de cima, não sem ajuda de laboratórios que os obrigam, não sem notório convencimento, a receitar aos pacientes os medicamentos mais caros de indústrias que querem tirar o couro do consumidor/paciente para pagar seus custos de produção. É parte da turma que faz prosperar os “Caneta Azul” e não Canetas Azuis.