Salatiel Soares Correia
é Engenheiro, Bacharel em Administração de Empresas, Mestre pela Unicamp, é autor, entre outras obras, de A Construção de Goiás.
 
A indução do desenvolvimento ocorre quando o governo articula as diferentes instituições de sua estrutura em torno dos objetivos aos quais pretende alcançar.
 
Tudo funciona como uma orquestra sinfônica, em cujo contexto o governo é o maestro e os músicos, os executores da melodia. A melodia se constrói a partir do elemento integrador do maestro: a batuta. No tempo certo, o violino, o piano, o violoncelo e os outros instrumentos são acionados para tocar. Sendo assim, as partes se integram no todo em torno do objetivo centrado na execução da melodia.
 
Posto isso, voltemos ao papel do governo como indutor do desenvolvimento. Na história política do Brasil, dois  governos se destacaram na indução do desenvolvimento econômico-social: de Getúlio Vargas e o de Juscelino Kubitschek.
 
A vitoriosa Revolução de 1930 alçou ao poder a ideologia nacional-desenvolvimentista liderada pelo gaúcho Getúlio Vargas. O sucesso do ideário varguista possibilitou a institucionalização das primeiras grandes instituições estatais brasileiras, a saber: Petrobras, Companhia Siderúrgica Nacional, Departamento Administrativo do Serviço Público (DASP), entre outras.
 
Na era JK a ideologia varguista do Estado como indutor do desenvolvimento consolidou o Estado empresário. Surgiu a partir daí um Brasil industrializado devidamente integrado ao interior do país. Esse foi, sem dúvida, o grande legado deixado por Juscelino à nação. Que o diga a consolidação da indústria automobilística, a construção de Brasília e da rodovia Belém-Brasília.
 
Mas qual a razão do sucesso das eras Vargas-JK para construção do Brasil moderno? A resposta é uma só: planejamento de longo prazo e devidamente articulado às estratégias concebidas pelo governo. Por essa razão, o sentido de direção corretamente articulado pelas diferentes instituições estatais (empresas de construção de estradas, produção de energia, saneamento, agências de desenvolvimento, etc.) integrou os objetivos estratégicos do governo.
 
O contraexemplo do sucesso dos governos Vargas-JK se apresenta nas desastradas ações do governo Bolsonaro em torno do grande assunto do momento: a pandemia. Veja-se o que vem ocorrendo com a politização de algo tão caro para a população brasileira como é o caso da vacinação contra o vírus da Covid-19.
 
Nesse contexto, o governo Bolsonaro vem demonstrando ser absolutamente amador. Sem um plano que articule as diversas instituições junto com estados e municípios (Ministério da Saúde, órgãos reguladores e os institutos de pesquisa).
 
E é exatamente esse vácuo de latente incompetência que vem sendo ocupado pelo oportunismo político do governo João Dória. Este se predispõe a vacinar não só os paulistas, mas todos os brasileiros que se dispuserem a ir a São Paulo.
 
A natural rebelião dos governadores de outros estados nada mais é que o reflexo da ação tardia do governo federal de chamar para si a responsabilidade de coordenar esse processo de vacinação. É o tal negócio: o maestro (governo Bolsonaro) não se mostra capaz de articular as partes (estados e municípios) com o todo (Brasil). A batuta do maestro rege uma melodia mais que desafinada.