Dias atrás, enquanto eu lia um artigo sobre o genial cientista inglês Stephen Hawking (de saudosa memória), deparei-me com uma sábia reflexão dele a respeito do maior perigo que pode ter de enfrentar o cidadão de boa-fé quando necessita de uma orientação ou de contratar serviços profissionais de um especialista.

Para o criador da teoria dos buracos negros, muito desses especialistas propagam – via marketing ou pelos títulos acadêmicos — um conhecimento, que jamais tiveram. Em situações como essa, o cidadão torna-se refém de uma espécie de “ilusão do conhecimento.” 

Stephen Hawking ensina que “o maior inimigo do conhecimento não é a ignorância, é a ilusão do conhecimento”; entendo essa como inerente a certos profissionais ,que fazem de suas profissões uma espécie de espetáculo, destinado a iludir a boa-fé de quem procura por seus serviços.

No sentido de dar maior clareza ao exposto, comentarei duas distintas situações inerentes ao dom de iludir proveniente de profissionais desprovidos de ética. Na primeira delas, relato a nada agradável experiência de um cidadão fictício, que chamarei de João ao consultar com um “renomado” oftalmologista.

A outra situação ocorreu com um outro sujeito de boa índole, que passo a me  referir a ele  pelo nome fictício de José. Este conseguiu evitar a contratação de uma “sumidade” midiática na Língua Portuguesa. Posto isso, relatemos caso a caso.

Primeiro: “gato escaldado tem medo de água fria.” – O Caso do João, desde que nasceu,João lidou com problemas na visão. Nestas suas mais de seis décadas de vida, passou pelas mãos de bons e maus profissionais. Com essa experiência acumulada, marcou uma consulta com um renomado oftalmologista,como sempre fez anualmente. No dia do encontro, entrou no consultório desse midiático profissional, com certa ressalva, pois, como todo bom brasileiro é meio avesso a médicos, que expõem seus talentos na mídia.

Quem é bom acaba se impondo pelo resultado de seu trabalho. O desconforto de João aumentou  ainda mais quando    percebeu algo, que entrou na sala de espera: dois diplomas de pós-graduação e cerca de — pasmem! — trinta participações naqueles congressos, nos quais todos os congressistas recebem um diploma de participação.

Concluídos os exames, esse déspota esclarecido da oftalmologia, apresentou seu diagnóstico sugerindo uma operação. Desconfiado do veredicto, João solicitou uns dias para pensar e foi buscar informações a respeito dos títulos acadêmicos e das revistas internacionais ,que esse “cientista tupiniquim” propagava.  Não encontrou nada, a não ser pequenos artigos publicados em revistas sem nenhum rigor de seleção. O reconhecimento desse “profissional” não ultrapassava o lado de lá do rio Paranaíba.

Não, ainda, satisfeito, procurou um médico formado numa escola de ponta, sem nenhum título na parede, mas com uma longa experiência de mais de 40 anos de clínica. “Não faça essa cirurgia. Você, praticamente, só enxerga do olho esquerdo. Se você operar, poderá ficar cego”. Dito e feito. João seguiu o conselho deste sábio e, passados vinte anos, enxerga e vê o mundo com o olho esquerdo.

Segundo caso: “ o canto da sereia” do professor de português – o caso do José.

A formação deficitária na Língua Portuguesa constituía-se no maior empecilho para José passar em um concurso público. Ciente disso, ele procurou o nome de um bom profissional capaz de lhe preencher essa lacuna na sua formação educacional.

Num de seus passeios pelos shoppings da capital, José enxergou um cartaz com a fotografia do rapaz bem-vestido, anunciando sua expertise na Língua Portuguesa. Assim como João, José procurou informar-se a respeito do profissional e, logo, descobriu, por intermédio de um amigo radialista, que as entrevistas do tal professor, nos meios de comunicação, eram elaboradas por ele e, devidamente, passadas aos entrevistadores. E, assim, o espírito crítico, inerente a quem de fato é cidadão, contribuiu para que José não fosse “engabelado” por um farsante.

Encerro, novamente, embevecendo-me dos ensinamentos do grande físico Stephen Hawking. Num mercado repleto de opções, não se deixe levar pela lábia de simpáticos espertalhões, que procuram impressionar quem de boa-fé procura-lhes em busca de soluções que envolvam conhecimento. O mercado está repleto de gente que deseja impressionar com a ilusão do conhecimento.

Se, caro leitor, permite-me dar uns conselhos, vão aqui alguns: desconfie do profissional que lhe aponta soluções de imediato para seus problemas. Para isso, escute sempre uma segunda e, em alguns casos, até uma terceira opinião. Isso vale para pedreiros, médicos, engenheiros, enfim, para quem lhe vende um serviço. No caso de médicos, que lhe sugerem desnecessárias cirurgias, não custa fazer a seguinte indagação: doutor, o senhor assina um documento formal de que essa operação é, realmente, necessária?

Agindo assim, você  vacina-se contra os males que a ilusão do conhecimento acarreta à sua vida e a de seus entes queridos.

Salatiel Soares Correia
é Engenheiro, Bacharel em Administração de Empresas, Mestre em Ciências pela Unicamp. É autor, entre outras obras, de “Cheiro de Biblioteca”.