Demitido nesta sexta-feira (9) do cargo de chefe da AGU (Advocacia-Geral da União), o ex-ministro Fabio Medina Osório afirmou que o governo de Michel Temer "quer abafar a Lava Jato" e tem "muito receio" de até onde a investigação sobre o esquema de corrupção na Petrobras possa chegar.

As declarações de Osório foram dadas à revista "Veja" na edição que começou a circular neste sábado (10).

Na quinta-feira (8) a Folha informou que o ministro-chefe da Casa Civil, Eliseu Padilha, havia chamado naquela noite Osório a seu gabinete para convencê-lo a se demitir.

Padilha alegou que Osório não atuava em compasso com o governo Temer e, segundo a Folha apurou, chegou a citar como exemplo o pedido que o chefe da AGU fez ao Supremo Tribunal Federal para ter acesso aos inquéritos de políticos envolvidos na operação Lava Jato. Essa ação teria sido feita sem comunicação ao presidente ou à cúpula do governo.

A intenção de Osório era mover ações de improbidade e ressarcimento contra esses políticos, assim como a AGU fizera com as empreiteiras acusadas de envolvimento no petrolão.

"Não tenho dúvida [de que sua demissão está ligada a esse episódio]. Fui demitido porque contrariei muitos interesses. O governo quer abafar a Lava Jato. Tem muito receio de até onde a Lava Jato pode chegar", disse o ex-ministro à revista.

Segundo ele, a "AGU tem a obrigação de buscar a responsabilização de agentes públicos que lesam os cofres federais".

Entre os políticos cujo acesso aos inquéritos foram autorizados pelo STF estão o do presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), e o ex-presidente do PMDB Valdir Raupp (RO).

A Folha não conseguiu contato com a assessoria de Eliseu Padilha até o início da tarde deste sábado. O Palácio do Planalto também não se manifestou na manhã deste sábado.

Primeira mulher

A situação de Osório no governo se complicou após ele demitir um de seus adjuntos, Luís Carlos Martins Alves Júnior.

Alves defendia, assim como Padilha, que a AGU deveria se afastar dos inquéritos envolvendo políticos na Lava Jato e se concentrar apenas na defesa do patrimônio público.

Osório também bateu de frente com Grace Mendonça, secretaria-geral da área de contencioso da pasta, que foi confirmada para substitui-lo e se tornou a primeira mulher a ocupar um cargo no primeiro escalão do governo Temer.

A situação de Fábio Medina Osório no governo era considerada "instável" desde a sua nomeação. No começo de junho, sua demissão chegou a ser cogitada pelo Palácio do Planalto.