Quem vê o País apenas pela ótica da podridão revelada por operações como Mensalão, Lava Jato, Zelotes, Ápia, Reis do Gado e tantas outras variantes, mas todas motivos de vergonha e indignação, pode até imaginar que somos apenas isso. Não somos.

Quarenta e oito horas navegando por cerca de 300 km pelos Rios Negro e Amazonas na programação do Encontro Nacional de Editores, Colunistas, Repórteres e Blogueiros (Enecob) visitando comunidades ribeirinhas, florestas e até empreendimentos na contramão das agressões à superlativa e cobiçada Amazônia, foi possível conhecer pessoas e iniciativas que primam pela sustentabilidade e, como formiguinhas, tentam barrar atividades destruidoras como as de grileiros, extração ilegal de madeiras e minérios, a pecuária que devasta ou a pesca predatória.

Alguns desses exemplos estão nas comunidades de Acajatuba, Saracá e Tumbira (na região do Baixo Rio Negro), em uma madeireira no município de Itacoatiara, em programas e projetos do governo amazonense, de empresas privadas e também do Ministério do Meio Ambiente, que sinalizam para propostas de consciência ambiental no enfrentamento de desafios que vão além da discussão ideológica sobre a amazônia.

Alertas

A queda de 21% no desmatamento na Amazônia Legal interrompendo crescimento após cinco anos revelado esta semana pelo Amazon (Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia) foi uma boa notícia, mas ainda preocupante diante da constatação de que a área desmatada entre agosto de 2016 e julho deste ano foi de 2.834 km² – o equivalente a quase o dobro da capital paulista ou a quatro cidades de Salvador.

Também preocupante a extinção por parte do presidente Michel Temer da Reserva Nacional de Cobre e Associados (Renca) que será aberta à exploração mineral e duramente criticada pelos ambientalistas. Criada em 1984 numa área de mais de 4 milhões de hectares na divisa entre o Sul e Sudoeste do Amapá com o Noroeste do Pará, a reserva é rica em ouro, ferro e cobre.

Nesse ambiente entre a degradação e o esforço pela conservação do que a natureza é pródiga na região, estão personagens como o empreendedor turístico Roberto Brito da comunidade de Tumbira, a professora aposentada Raimunda Ribeiro de Saracá, a artesã Marlene da Costa de Acajatuba ou a apresentação histórica da cantora indígena Djuena Tikuna, 32 anos, na última quarta-feira, no centenário Teatro Amazonas, em Manaus, onde fez show de lançamento do álbum Tchautchiüãne.

Em postos estratégicos estão o professor Francisco Girão da Amazonastur, o engenheiro florestal João Cruz da suíça Mil Madeiras, o gerente executivo de Concessões Florestais do Ministério do Meio Ambiente Henrique Dolabella e mesmo o experiente comandante naval Semeão Fernandes da embarcação Iana II, que são sinais de que outros brasis estão a resistir e a emergir de um lamaçal estarrecedor.

Enecob

Criado em 2013 pelo jornalista mineiro Leandro Mazzini com o objetivo de reunir editores, repórteres, colunistas e blogueiros de veículos de comunicação para reforçar laços profissionais e debater projetos e propostas dos temas selecionados em cada edição, o Enecob se tornou um ambiente de reflexão sobre demandas nacionais e também de valorização dos veículos. Foi o que ocorreu nesta 8ª edição, quando, de 18 a 21 deste mês, 12 jornalistas de veículos da Alemanha, São Paulo, Paraná, Distrito Federal, Pará, Rondônia, Tocantins e Amazonas navegaram, a partir de Manaus, cerca de 300 km pelos Rios Negro e Amazonas visitando comunidades ribeirinhas, florestas, madeireira e conhecendo iniciativas que focam a preservação ambiental.

Com novos eventos na agenda, o Enecob ganhou o reforço da gerente de Sustentabilidade Luciana Abade, profissional experiente com vasto conhecimento e passagens por empresas privadas e do setor público. Ela passa a cuidar da parte técnica e programação. Os encontros contam com apoio de parceiros fixos e outros das áreas privadas e públicas que bancam os seus custos.