No terceiro dia de julgamento do impeachment de Dilma Rousseff, os senadores adotaram um tom de tranquilidade na sessão e concentraram as conversas nas últimas estratégias de votos e de preparo da ida da presidente afastada ao Senado amanhã.

Em depoimento, que durou mais de oito horas, o ex-ministro da Fazenda Nelson Barbosa depôs como testemunha da defesa ao longo do dia de ontem. Sobre as chamadas pedaladas fiscais, um dos crimes pelos quais Dilma é acusada no Senado, Barbosa se posicionou tecnicamente, dizendo que o fato de a presidente ter tido conhecimento de algumas ações não significa que houve responsabilidade dela.

Ao defender que Dilma não cometeu irregularidades na edição de decretos de crédito suplementar em 2015, outro ponto da acusação contra ela, o ex-ministro afirmou que o Tribunal de Contas da União (TCU) aprovou a prática em anos anteriores. “Em 2009, foram editados 32 processos de abertura de crédito suplementar. Foram aprovados pelo TCU sem ressalvas a esse aspecto”, afirmou.

O depoimento do advogado Ricardo Lodi, também indicado pela defesa, estava marcado para a noite de ontem, encerrando as oitivas. Reuniões dos dois lados foram agendadas para hoje. Parlamentares da base aliada do presidente interino, Michel Temer (PMDB), definirão o tom das perguntas a serem feitas a Dilma Rousseff amanhã.

Querem evitar que ela seja transformada em vítima. Para tanto, devem explicitar as condições em que o país foi deixado, usando termos como “desastrosas”.

Os aliados de Dilma querem também definir sua estratégia. Trabalham para reunir 28 senadores - os 21 que têm se mantido fiéis à petista e mais sete tidos como suscetíveis a argumentos para mudanças de voto de última hora. O número é o mínimo necessário para que Dilma reverta um cenário praticamente definido pró-impeachment. A presença da petista no Senado é considerada o fato mais esperado desta fase final do processo. Conforme a Folha antecipou, Dilma deve adotar um tom emocional no discurso para convencer senadores.

Manifestação

O Movimento dos Trabalhadores Sem Teto e movimentos de esquerda planejam bloquear “grandes rodovias e avenidas” de São Paulo na próxima terça-feira, durante a etapa final do impeachment. A expectativa é de que 10 mil pessoas participem dos “travamentos e bloqueios de grandes rodovias e avenidas”. Amanhã, os grupos contra o impeachment pretendem protestar em frente ao Senado, em Brasília.

Os movimentos favoráveis ao impeachment não informaram uma agenda consolidada de eventos, embora exista um diálogo para que os grupos se manifestem de forma conjunta caso o impeachment seja confirmado.