A entregadora Júlia Rodrigues Martins, 22 anos, divide sua rotina entre cuidar da casa, da família, estudar e trabalhar. Parte do seu tempo ela passa em cima de uma motocicleta percorrendo praticamente toda a Capital, isso porque há cinco meses ele começou a trabalhar como entregadora em uma empresa de delivery em Palmas. Empolgada com o que faz, ela relata que não sente se insegura na profissão pelo fato de ser mulher, porém, sente medo no trânsito, principalmente devido às imprudências dos motoristas nas ruas.  “Não sinto que eu passo por mais perigos por ser mulher. Tenho muito medo de acidentes ou quedas, mas isso é o que todos nós que trabalhamos nessa área sentimos”, comenta.

Ela conta que não sente nenhum constrangimento por estar exercendo uma profissão que culturalmente é realizada por homens.  “Nunca me senti intimidada por fazer entregas e está ocupando lugares que muitas vezes são preenchidos por eles, pelo contrário, sempre me apoiam. Claro que tem dias que a gente se deparar com um ou outro machista, mas isso é o de menos”, diz.

Em Palmas, a empresa em que Júlia conseguiu a oportunidade decidiu tomar uma decisão importante no que diz respeito à conquista da equidade de gênero. Parte das vagas oferecidas no local é destinada para o público feminino. Porém, apesar da oferta, o empresário do segmento, Fábio Varanda Carneiro, comenta que a procura delas ainda é pouca. “Muitas mulheres se acanham em trabalhar como entregadoras. Não sei se é porque é costume do mercado ter mais homens na função”, observa.

Em um País marcado por altas taxas de violência sexual, machismo e falta de espaço em profissões taxadas como masculinas, a empresa tem se esforçado para ampliar a participação delas no mercado. Carneiro menciona que atualmente o lugar conta com 70 entregadores e apenas duas mulheres. Mas para as interessadas, ele garante que as vagas estão abertas. “Nós gostamos de ter esse público no quadro de funcionários, até mesmo porque a mulher tem mais jeito de conversar com as pessoas. Até no trânsito elas são mais cuidadosas”, ressalta. 

Ele ainda enfatiza que a empresa está passando por uma transformação e expandindo o negócio. Atuando em cinco cidades, o lugar, que também pretende abranger o delivery para além da alimentação, que é oferecido atualmente, Carneiro conta que o objetivo é também aumentar o número de funcionárias. “E isso engloba contratar mais mulheres. As interessadas podem procurar a empresa e no site tem um formulário para se candidatar à vaga, não só em Palmas, mas também nas outras cidades. Aqui é uma empresa para todos os públicos, inclusive o feminino, não só como entregadora, mas também para exercer outras funções aqui dentro”, informa. 

Dados 

Dados do Departamento Nacional de Trânsito (Denatran) mostram que 71% dos acidentes no País são provocados pelos homens. Além disso, 70% das multas registradas são para motoristas do sexo masculino. Segundo o Censo do IBGE 2010, a população brasileira é composta por 49% de homens e 51% de mulheres.

Ainda de acordo com os números do órgão, no comparativo entre homens e mulheres, o maior risco associado ao volante também pode ser verificado pelas estatísticas referentes ao condutor do veículo. Em 2017, 42% das indenizações pagas para condutores dos veículos foram para o sexo masculino, contra apenas 7% para motoristas do sexo feminino.