No Brasil, segundo levantamento de 2017 do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae), existem cerca de 6 milhões de Microempreendedores Individuais (MEI) e grande parte desses trabalhadores é um fenômeno que decorre da crise econômica que se instalou no País e parece ter se agravado desde 2013. Ainda segundo o levantamento do Sebrae nacional, em torno de 50% desses MEIs trabalham em casa e assim livram o custo do aluguel.

No Tocantins, a população estimada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas (IBGE) para 2018 em 1.555.229 pessoas. Desse universo, 54.116 são Microempreendedores Individuais, segundo levantamento do Sebrae do Tocantins. E desses, 15.894 trabalhadores moram e trabalham em Palmas. Porém, essas estatísticas dizem respeito a quem montou seu próprio negócio e já está formalizado. Mas, a quantidade de pessoas que trabalha por conta própria, na maioria das vezes em suas residências, pode ser bem maior. Este é o caso da professora Nelma Maria Matias Pinheiro, que já está próxima do tempo de se aposentar, decidiu resgatar uma profissão da juventude: a costura.

Por muitos anos ela exerceu o ofício de costureira, depois aliou a atividade ao exercício de professora e quando ingressou no serviço público, abriu mão da atividade que durante muito tempo ocupou sua rotina e contribuiu para incrementara renda familiar.

Professora de história, mas há algum tempo compondo o corpo técnico da Secretaria Estadual de Educação do Tocantins, Nelma diz que é justamente a proximidade da aposentadoria que a motivou a buscar outra atividade para exercer. “Sou uma pessoa proativa, vou sempre querer uma atividade que me faça interagir com pessoas diferentes. Ao mesmo tempo, desejo que esta atividade estimule minha criatividade. Como gosto muito de moda, de tendências, resolvi investir neste projeto do Ateliê de Vó”, conta.

Além de voltar a produzir, em uma área diversa da que atuou nos últimos tempos, Nelma escolheu um nicho muito específico: moda infantil feminina e já produz peças que ao final lhe provocam uma retribuição que vai além da financeira. De acordo com ela, criar estas roupas que tornam mais belo e colorido o universo infantil é uma forma de sentir-se realizada. “Nesta nova atividade quero estar sempre atenta a criar, me atualizar, estar a par dos lançamentos e tendências do mundo da moda e me mantendo ativa livre da ociosidade”, adianta.

Até decidir voltar a costurar, a professora percorreu um longo caminho. Ela conta que este é um projeto que foi desenhado há muito tempo, mas que não chegou a ser posto em prática. Ela tem três filhos e dois netos, um menino (Artur) e uma menina (Eduarda), que, em casa, são sempre seus companheiros.

Inspiração

No início deste ano, a neta adoeceu e teve que fazer um tratamento de saúde fora de Palmas, onde ficou por mais de seis meses. Para compensar a ausência da neta e matar um pouco da saudade, ela diz que começou a fazer roupinhas. “Eduarda é minha inspiração e assim encontrei uma forma de senti-la presente em minha vida. Ficava meu tempo livre fazendo roupas para ela, fiz tantas... Aproveitei todos os retalhos que tinha em casa, comprei novos tecidos e assim sentia a Dudu comigo dias e noites”, diz Nelma.

O que ela não esperava era que essas roupas fizessem tanto sucesso a ponto de receber encomendas, inclusive de fora do Tocantins. “Assim fui me envolvendo e hoje tenho uma produção razoável, dentro das limitações do ‘fazer artesanal’. Não produzo em série”, explica a costureira, que oferece sua produção por meio de uma conta nas redes sociais. A produção é numa oficina de costura nos fundos da casa, entre uma cozinha e uma lavanderia.

Formalização

Na fase inicial do negócio, a professora-costureira explica que ainda não formalizou uma empresa, mas que pretende fazer em breve. De acordo com ela, já há um planejamento, para que ela possa ter melhores condições tanto para comprar a matéria prima, quanto para realizar vendas em maior quantidade. “A gente começa um negócio pequeno, mas sabe que ele pode ser expandido. Quero me preparar para ver o Ateliê de Vó crescer e prosperar”, diz Nelma, ciente de que a formalização será mais um passo nessa nova empreitada.