A língua portuguesa conta com uma variedade de dialetos, sonoridades e vocabulários muito extensa. Essa multiplicidade linguística ilustra uma diversidade cultural muito ampla no País, e no Tocantins não é diferente. Apesar das diferentes variantes de vocabulários e de sonoridades, o Estado pode ser dividido em dois subfalares: Antigos e Contemporâneo, conforme o Atlas Linguístico Topodinâmico e Topoestático do Estado do Tocantins, desenvolvido pela professora Greize Alves da Silva, do Câmpus da Universidade Federal do Tocantins (UFT) de Porto Nacional.

“Os falares são caraterísticas específicas e peculiares de um grupo de falantes, presentes na fala daquelas pessoas que podem identificar determinada região”, explica a professora, que apresentou o Atlas após quatro anos de pesquisas e entrevistas com tocantinenses de 12 cidades para seu doutorado.  Em seu trabalho, Greize coletou dados das formas que os moradores do Tocantins falam e os dispôs em mapas. Com isso, chegou a conclusão: “São duas variações fortes, uma mais localizada na região Sudeste, saindo das cidades mais antigas como Natividade e Paranã subindo até Porto Nacional, margeando Mateiros, há uma predominância de um português mais antigo e arcaico. Usam-se muitas formas provenientes da zona rural”. Já sobre a segunda varienate, ela diz: “o restante do Estado, principalmente, as cidades que margeiam a BR-153, percebi uma mistura que até é mais complicada de ser classificada. São elementos linguísticos mais recentes. Jovens que não conhecem termos rurais são mais urbanos e modernos”, afirma.

Influências

Questionada se os falares tocantinenses possuem muitas influências de outras regiões, a professora indicou que existe uma predominância de elementos do Nordeste e, logo após, do Norte do País, principalmente. “Se observa uma diferença do dialeto do Tocantins com o de Goiás. Apesar de apenas 31 anos de emancipação, penso que o movimento de separação foi tão forte, que as pessoas fizeram questão de não se parecer com Goiás, inclusive no vocabulário”, relata. A pesquisa identificou uma grande variedade nos vocabulários tocantinenses. “As formas como denominamos os objetos e coisas são muito variadas no Tocantins. Temos vários nomes para uma única palavra”, comenta exemplificando três casos:

- Flor da bananeira, mangará, umbigo, coração, buzo, fio, pendão, figa e olho
- Jacá, balaio, cesta/cesto, cofo, caçuá, capanga/bolsa/embornal, pacará, alforje, garajau, cocho, chocononto e arupemba
- Cambito, libélula, lava-bunda, lava cu, lava cuida, cavalo, cavalinho de capeta, cavalinho do cão e cavalinho judeu

Outra questão observada pela pesquisa foi à variação do ‘R’. Apesar de perceber todas as variações fonéticas, o ‘R’ pronunciado sem vibração nas cordas vocais é o presente na maioria das localidades estudadas.

Toda essa diversidade no vocabulário e presença de diferentes sotaques vindas de outras partes do País contribui para “crenças positivas”, conforme a professora. “É comum perceber em muitos lugares no Brasil um preconceito sobre os falares de outros locais, devido aos sotaques, mas com minha pesquisa percebi que aqui as pessoas estão acostumadas as variantes na forma do outro falar e tem pensamentos positivos sobre essas diferenças”, relata. 

Pesquisa

O questionário da pesquisa foi dividido em subáreas, sendo elas sonoridade/fonéticos (sons das letras), vocabulário (nomes de coisas e objetos), morfossintática, entretanto, a parte do trabalho já publicada tem somente 10% da pesquisa total, que recolheu 28 mil dados. A pesquisa foi realizada com dois grupos de pessoas, de 18 e 30 anos, que tem a característica de modificar seu falar para se adaptar aos grupos sociais, e dos 50 a 65 anos, que é uma faixa etária já está inserida e traz a variante de origem. Foram 350 perguntas para 95 pessoas em 12 localidades, escolhidas devido a critérios históricos, econômicos e devido à proximidade com fronteiras estaduais.

Confira alguns dos dados que mais chamaram atenção da pesquisadora abaixo: