Assassinada na chacina que deixou 12 mortos na noite de Réveillon em Campinas, Isamara Filier, 41, registrou cinco boletins de ocorrência contra Sidnei Ramos de Araújo, 46, autor dos crimes e seu ex-marido, desde 2005, de acordo com a Polícia Civil.

Sidnei invadiu uma festa de Ano-Novo e assassinou a ex-mulher, Isamara, o filho, João Victor, 8, e outras dez pessoas que estavam no local, e se matou em seguida.

Apesar dos registros, ela não quis representar criminalmente (autorizar o início do processo penal).

Dois boletins são de ameaça e injúria (em 2005 e 2012), um de vias de fato (quando há agressão sem lesão corporal, como empurrões, em 2013) e outro de violência doméstica e ameaça, em 2015, quando recusou que fossem aplicadas medidas restritivas.

Além desses, há outro boletim, não criminal, por aproximação do pai em dia não marcado para visita, em 2014.

A polícia busca ainda o proprietário da arma usada no crime, uma pistola 9 mm, com numeração fortemente raspada. A principal suspeita é de que pertença a um ex-policial -o revólver é de uso restrito de forças policiais.

Foi apreendido um gravador, em que o atirador deixou uma mensagem se desculpando sobre algo que iria acontecer, sem citar os homicídios.

ENTERRO

As vítimas da chacina foram enterradas sob forte comoção na manhã desta segunda-feira (2) em Campinas.

Sobre cadeira de rodas, Luiz João Batista, 58, um dos sobreviventes, relatou o clima de tensão no local: "Foi uma tragédia, foi um horror".

Aos amigos e familiares, ele agradecia a presença de todos, e tentava acalmar as pessoas com palavras de fé e esperança. "Deus vai confortar todo mundo aqui", disse.

Os primeiros corpos enterrados foram do casal Abadia e Paulo de Almeida, 61. Um dos filhos do casal estava no velório. Extremamente emocionado, não conseguiu falar.

Os enterros começaram às 9h30 e terminaram às 11h30, com o sepultamento dos corpos da ex-mulher e do filho do atirador, além de um tio do menino, Rafael Filier, 33.

ATIRADOR

O autor da chacina foi enterrado também na manhã desta segunda em Jaguariúna, cidade vizinha a Campinas. Abalado, seu pai, Arnaldo Araújo, 74, disse que o filho era "tímido e retraído".

"Era um amor de pessoa. Não bebia, não fumava. Nunca havia entrado em uma delegacia até passar por isso."

Disse ainda estar triste pela família dos mortos. "Sinto pelo meu lado, mas pelo deles também."