O governo de Hong Kong informou na sexta-feira, 31, que adiará as eleições legislativas previstas para setembro por um ano por causa da pandemia de coronavírus. A decisão foi vista pela oposição pró-democracia como uma tentativa de frustrar o seu resultado eleitoral e evitar uma grande derrota dos candidatos de Pequim."É uma decisão muito difícil adiar, mas queremos garantir justiça, segurança pública e saúde pública", disse Carrie Lam, a chefe de governo de Hong Kong. O atraso foi um golpe para os políticos da oposição, que esperavam alcançar uma grande vitória em uma onda de profunda insatisfação com o governo e preocupações com uma nova lei de segurança nacional imposta pela China em Hong Kong.Esse foi o mais recente golpe da série de movimentos do establishment a favor de Pequim para enfraquecer o movimento pró-democracia na ex-colônia britânica. Na quinta, 12 candidatos pró-democracia foram impedidos de concorrer, incluindo quatro parlamentares em exercício e vários ativistas de destaque como Joshua Wong. Wong disse que foi barrado em parte por causa de suas críticas à nova lei de segurança e chamou as desqualificações de "a fraude eleitoral mais escandalosa da história de Hong Kong".Mesmo após Hong Kong anunciar a decisão citando razões de saúde pública para conter a propagação do vírus, a oposição acusou o governo de usar regras de distanciamento social para reprimir o movimento de protesto. Eddie Chu, um legislador pró-democracia que se candidata à reeleição, disse no Twitter que o Partido Comunista da China estava ordenando "um retiro estratégico". "Querem evitar uma potencial derrota devastadora", escreveu ele."Acho que isso será visto como uma espécie de manipulação e que o governo tem medo de perder a maioria. É por isso que adiaram a eleição", disse Ma Ngok, professor associado de ciência política da Universidade Chinesa de Hong Kong. Neste ano, a oposição está de olho em um objetivo maior: ocupar pelo menos metade dos 70 assentos no Conselho Legislativo, o principal órgão legislativo do território. Os candidatos à oposição dizem que o adiamento sugere que as autoridades pró-Pequim estão preocupadas com uma derrota retumbante nas eleições de setembro. Até os candidatos ao establishment discutem discretamente o potencial de uma onda pró-democrática. As eleições para cargos de nível local, realizadas em novembro de 2019, foram vistas como um aviso: a oposição assumiu o controle de 17 dos 18 conselhos distritais, que normalmente eram controlados por partidos pró-Pequim.Embora Hong Kong tenha sido líder mundial no controle do coronavírus, o país teve seu pior aumento de infecções nos últimos dias, com mais de 100 novos casos relatados diariamente por mais de uma semana. O governo desenvolveu várias novas medidas de bloqueio e de distanciamento social.