A Polícia Civil do Rio anunciou neste domingo (29) que a delegada Cristiana Bento, titular da DCAV (Delegacia da Criança e do Adolescente Vítima), vai assumir o comando da investigação do caso de estupro coletivo de uma menor de 16 anos no Rio.

A mudança foi feita após pressão da defesa da vítima e do Ministério Público, que pediram o afastamento do delegado Alessandro Thiers, da Delegacia de Repressão a Crimes de Informática, responsável pela apuração do crime.

"A medida visa evidenciar o caráter protetivo à vítima na condução da investigação, bem como afastar futuros questionamentos de parcialidade no trabalho", diz a nota da Polícia Civil.

Advogada da adolescente, Eloísa Samy alegava que Thiers investigava o caso com machismo e misoginia, colocando o estupro como crime menor.

Em entrevista, o delegado disse que investigava "se houve consentimento dela, se ela estava dopada e se realmente os fatos aconteceram".

A advogada da adolescente e o delegado que estava responsável pelo caso já haviam sido antagonistas em 2014, quando ela defendia manifestantes acusados de atos violentos durante os protestos populares.

Ela chegou a ser presa temporariamente por Thiers, sob acusação de associação criminosa. À época, a advogada negou ter participado de atos de violência nos protestos.

Até agora, a polícia não prendeu nenhum dos envolvidos. Dois suspeitos deram depoimentos na última sexta (27), mas foram liberados em seguida. Outro foi detido durante uma operação da polícia no sábado (28) e também foi liberado.

A vítima foi estuprada na madrugada do dia 21 no complexo de favelas São José Operário, zona oeste do Rio. O caso só se tornou público após jovens postarem fotos e vídeos dela nua e desacordada.

Segundo depoimento da vítima, ela encontrou num baile funk na comunidade um rapaz de 19 anos com quem estava "ficando".

A jovem disse que foi parar numa casa com um rapaz e, a partir daí, só se lembra de ter acordado em outra casa. A investigação teve início após um vídeo da jovem, nua e desacordada, ser postado em redes sociais na terça (24).

Na gravação, um grupo de homens, em meio a risadas, toca nas partes íntimas da garota e diz que ela foi violentada por "mais de 30".

Também neste domingo, o Ministério Público do Estado deu parecer favorável à retirada do delegado Thiers, titular da DRCI, do comando da investigação. O parecer foi dado na madrugada deste domingo (29), após pedido da defesa da vítima.

"Para preservar o delegado e garantir a imparcialidade da investigação, decidimos transferir a coordenação das investigações para a doutora Cristiana, que já estava acompanhando as investigações porque a DCAV vinha dando apoio. Ela está recebendo os autos hoje, vai se inteirar e avaliar a necessidade de uma medida cautelar, seja ela de prisão ou não", disse o chefe da Polícia Civil, delegado Fernando da Silva Veloso.

Críticas

Samy criticou as perguntas feitas por Thiers durante o interrogatório de sua cliente. "O delegado perguntou se a menina de 16 anos, uma menina vítima de estupro coletivo, tinha por hábito fazer sexo em grupo."

Em 2009, a lei 12.015 foi alterada e passou a considerar, além da conjunção carnal, atos libidinosos como crime de estupro.
A presidente da Comissão de Segurança Pública e Assuntos de Polícia da Alerj (Assembleia Legislativa do Rio), a deputada estadual Martha Rocha (PDT), repudiou, em nota, as declarações do delegado Thiers sobre o caso.

Segundo a deputada, as frases de Thiers publicadas pela imprensa criminalizam e culpabilizam a vítima. "Quando estamos diante de uma barbárie dessas e o delegado diz que "está investigando se houve consentimento e que a polícia não pode ser leviana", entendemos porque tantas mulheres deixam de ir às delegacias denunciar casos de abuso sexual e violência", afirmou Rocha.

Como presidente da Comissão de Segurança da Alerj, Rocha também lamenta que a investigação não tenha a participação da DEAM (Delegacia Especializada no Atendimento à Mulher).