A presidente interina da Bolívia, Jeanine Áñez, designou na quarta-feira, 13, seus primeiros 11 ministros, de um total de 20, um dia após se declarar no poder depois da renúncia de Evo Morales, que aceitou a oferta de asilo político do México.Na nova equipe se destacam a acadêmica e diplomata Karen Longari como chanceler e o senador de direita Arturo Murillo como ministro do Interior."Vamos à caça de Juan Ramón Quintana (ministro da Presidência de Evo), porque é um animal que se alimenta de sangue", disse Murillo após tomar posse. Quintana é acusado de ser o "cérebro" das ações contra a oposição.Jeanine afirmou, por sua vez, que "o trabalho principal da nossa administração será restabelecer a paz social". A onda de protestos contra e pró-Evo já deixou 10 mortos e 400 feridos na Bolívia, segundo números oficiais.Para ministro das Finanças foi nomeado José Luis Parada, assessor econômico do governo de Santa Cruz, rica região oriental e bastião opositor a Evo. O novo ministro da Presidência é Jerjes Justiniano, um advogado ligado ao líder que promovia os protestos contra Evo, Luis Fernando Camacho.A pasta da Defesa coube ao consultor de marketing Fernando López Julio; a da Comunicação, à jornalista Roxana Lizarraga; a do Meio Ambiente será comandada pela ex-parlamentar María Elba Pinckert, e a da Justiça, por Álvaro Coimbra.O ex-senador Yerko Núñez liderará a pasta de Obras Públicas. Samuel Ordóñez ficará responsável pelo Ministério do Desenvolvimento Rural, enquanto Álvaro Guzmán liderará o de Energia.Até o momento, nenhuma autoridade indígena aparece entre as nomeações. A presidente interina deixou pendentes pastas como Hidrocarbonetos, Planejamento, Educação, Saúde, Trabalho e Cultura.Crucifixo, velas e Bíblia na cerimônia de posseNa mesa onde estava sentada a presidente durante a cerimônia de posse, no Palácio Quemado, havia um crucifixo, duas velas acesas e uma Bíblia."Este Conselho de Ministros que é apresentado hoje de forma parcial (...) inclui pessoas conhecedoras e especializadas de perfil técnico, como corresponde a um governo de transição", afirmou Jeanine em seu discurso.A presidente reafirmou que outro desafio do governo é convocar novas eleições o mais rápido possível. "Não aceitarei qualquer outra saída que não sejam eleições democráticas", já havia dito ela, uma senadora de direita de 52 anos, até então pouco conhecida no país."Convidaremos a Organização dos Estados Americanos (OEA) e a União Europeia" como observadoras das eleições, disse Karen Longari, única integrante do gabinete que falou durante a cerimônia de posse. "Faremos o necessário para deixar uma política externa estruturada", destacou ela, acrescentando que a Bolívia assumirá um papel "ativo" na diplomacia latino-americana. Nova cúpula militarUma das primeiras ações de Jeanine nesta quarta foi designar uma nova cúpula militar, que terá como comandante das Forças Armadas o general do Exército Sergio Carlos Orellana, que ocupa o lugar do general Williams Kaliman, que passou à reserva.Kaliman, nomeado chefe das Forças Armadas há um ano, se negou a enviar militares para reprimir os protestos e a revolta policial contra Evo, deflagrada na semana passada.O "Estado é necessário mais do que nunca para manter a paz", disse Orellana em um discurso no qual pediu aos seguidores de Evo que "deponham suas atitudes intransigentes".A presidente também nomeou o novo chefe do Estado-Maior e os novos comandantes do Exército, Marinha e Força Aérea. Evo critica EUA por reconhecer Jeanine como presidente interinaEvo Morales repudiou na quarta-feira o reconhecimento de Jeanine Áñez como presidente interina da Bolívia pelo governo dos Estados Unidos.Condenamos la decisión de Trump de reconocer al gobierno de facto y autoproclamado por la derecha. Después de imponer a Guaidó, ahora proclama a Añez. El golpe de Estado que provoca muertes de mis hermanos bolivianos es una conspiración política y económica que viene desde EEUU.— Evo Morales Ayma (@evoespueblo) November 14, 2019"Condenamos a decisão de Donald Trump de reconhecer o governo autoproclamado pela direita. Depois de impor (o autoproclamado presidente da Venezuela, Juan) Guaidó, ele agora proclama Áñez. O golpe de Estado que provoca a morte de meus irmãos bolivianos é uma conspiração política e econômica vinda dos EUA", escreveu Evo no Twitter.O governo americano argumentou que a proclamação de Jeanine cumpre a Constituição na Bolívia e pediu o "restabelecimento da ordem" no país.