Com exceção de Donald Trump, os três últimos ex-presidentes dos Estados Unidos, Barack Obama, George W. Bush e Bill Clinton, anunciaram que estão dispostos a serem vacinados contra a Covid-19 publicamente para promover a confiança no imunizante, assim que ele estiver disponível e for considerado seguro pelo FDA, órgão americano responsável pela regulação de medicamentos.Freddy Ford, porta-voz de Bush, disse em entrevista à CNN que o republicano, que governou os EUA de 2001 a 2009, entrou em contato com Anthony Fauci, diretor do Instituto Nacional de Alergias e Doenças Infecciosas, e com Deborah Birx, coordenadora da resposta da Casa Branca ao coronavírus, para saber como ele poderia ajudar a promover a vacina."Quando for a hora certa, ele [Bush] quer fazer o que puder para ajudar a encorajar os cidadãos a serem vacinados", disse Ford. "Primeiro, as vacinas precisam ser consideradas seguras e administradas aos grupos prioritários. Então, o presidente Bush entrará na fila para receber a sua, e ficará feliz em fazê-lo diante das câmeras."Clinton, democrata que esteve na Presidência de 1993 a 2001, também disse estar disposto a ser imunizado publicamente para apoiar a campanha americana de vacinação."O presidente Clinton certamente tomará a vacina assim que ela estiver disponível para ele, baseado nas prioridades determinadas pelas autoridades de saúde pública", disse sua assessora de imprensa, Angel Urena. "E ele o fará em um ambiente público se isso ajudar a incentivar todos os americanos a fazerem o mesmo."Obama, que governou os EUA de 2009 a 2017, falou sobre o tema durante uma entrevista à rádio SiriusXM e reforçou a confiança nos especialistas americanos, além de prometer tomar a vacina assim que ela for disponibilizada para grupos de menor risco."Em pessoas como Anthony Fauci, que eu conheço e com quem trabalhei, eu confio completamente. Então, se Anthony Fauci disser que a vacina é segura, eu com certeza vou tomá-la", disse o democrata."Eu posso acabar mostrando na TV ou filmando [a vacinação], apenas para que as pessoas saibam que eu confio na ciência. Eu não confio é em pegar Covid."Durante a entrevista, o apresentador Joe Madison perguntou a Obama sobre a aceitação da vacina pelos afro-americanos, citando o "histórico de experimentos médicos" com os negros do país.Em um episódio internacionalmente reconhecido como um exemplo de má conduta científica, pesquisadores levaram cerca de 400 pessoas negras infectadas com sífilis a passar anos sem tratamento para que a doença pudesse ser mais bem analisada.O caso, que aconteceu entre 1932 e 1972, ficou conhecido como "Experiência Tuskegee", em referência ao nome da cidade, no estado do Alabama, onde os experimentos foram conduzidos. Em 1997, o então presidente Bill Clinton pediu desculpas públicas aos sobreviventes em nome do governo americano."Eu entendo por quê, historicamente, com tudo que remonta aos experimentos de Tuskegee, a comunidade afro-americana possa ter algum ceticismo [em relação à vacina contra a Covid-19]", disse Obama, o primeiro presidente negro dos EUA."Mas o fato é que as vacinas são o motivo pelo qual nós não temos mais poliomielite, a razão pela qual não temos um monte de crianças morrendo de sarampo, varíola e de outras doenças que dizimavam populações e comunidades inteiras", acrescentou o ex-presidente.Embora Trump tenha reiteradamente assumido a postura de negacionismo científico no enfrentamento à pandemia e minimizado a gravidade da Covid-19 mesmo quando ele próprio foi infectado, o atual presidente americano parece usar outra abordagem em relação às vacinas.Em agosto, em plena campanha eleitoral por sua reeleição, o republicano chegou a afirmar que os americanos teriam uma vacina antes do fim do ano, e seu governo considerou contornar padrões regulatórios para aprovar o imunizante produzido pela empresa AstraZeneca em parceria com a Universidade de Oxford antes da votação marcada para 3 de novembro.Derrotado nas urnas, Trump se recusou a admitir a vitória do democrata Joe Biden. Sua postura intransigente de falta de cooperação com a equipe de transição, segundo o presidente eleito, pode atrasar em semanas ou até meses a distribuição da vacina contra a Covid-19.Apesar disso, o republicano tem tentado reinvindicar para si a maior parte do crédito pela rapidez sem precedentes no processo de aprovação de um imunizante para os americanos, enquanto o país volta a bater recordes de casos e mortes e os principais especialistas alertam para um período sombrio nos próximos meses."A realidade é que dezembro, janeiro e fevereiro serão tempos difíceis. Eu realmente acredito que eles serão os mais difíceis na história da saúde pública desta nação", disse, nesta quarta (2), o diretor do Centro de Controle e Prevenção de Doenças dos EUA (CDC), Robert Redfield.Também nesta quarta, o país bateu o recorde de óbitos em um único dia, superando os piores números registrados desde o início da pandemia.Foram ao menos 2.804 mortes em um período de 24 horas, de acordo com dados compilados pela Universidade Johns Hopkins. A marca anterior era de 2.607 óbitos registrados em 15 de abril.No total, o país acumula 13,9 milhões de casos e mais de 273 mil mortes pelo coronavírus. Para Redfield, o número de óbitos pode subir para a faixa dos 450 mil já no primeiro trimestre de 2021.