O novo porta-aviões do Reino Unido, o HMS Queen Elizabeth, e pelo menos quatro navios de seu grupo de ataque foram afetados por um surto de Covid-19.

O navio está em sua missão inaugural, uma viagem que começou em maio e vai até dezembro, cobrindo diversas águas estratégicas, no maior deslocamento naval britânico desde a Guerra das Malvinas (1982).

O surto, segundo a rede BBC, atingiu cerca de cem marinheiros, mas não há detalhes sobre quantos foram infectados em quais navios. O grupo de ataque é composto pelo porta-aviões, 2 destróieres britânicos e um americano, 2 fragatas britânicas e 1 holandesa, 2 navios auxiliares e 1 submarino.

Há ao todo 3.700 militares na operação, boa parte no Queen Elizabeth, nau capitânia da Marinha Real com capacidade para 1.600 marinheiros que foi alvo de críticas por seu preço unitário exorbitante, £ 3 bilhões (cerca de R$ 21 bilhões hoje).

Jornais britânicos afirmam que a suspeita maior é de que eles se contaminaram durante uma noitada durante uma escala em Chipre, quando foram autorizados a deixar as embarcações. Mas há também uma morte ainda não explicada a bordo da fragata HMS Kent, que havia feito uma parada na Grécia.

Segundo o Ministério da Defesa, todos os integrantes da missão tinham tomado duas doses de vacina contra a Covid e há medidas de distanciamento social e uso de máscara mandatórias. Os infectados foram isolados e a missão prossegue.

No ano passado, na etapa inicial da pandemia, um dos porta-aviões gigantes dos Estados Unidos, o USS Theodore Roosevelt, teve de ser evacuado em Guam (Pacífico) devido a um surto da doença.

O episódio fez ainda mais: derrubou o comandante da Marinha dos EUA. Ele resistira aos pedidos do capitão do navio para desembarcar a tripulação e o afastou do comando, ainda o insultando durante uma mensagem aos marinheiros.

O Queen Elizabeth é uma peça de propaganda geopolítica dos britânicos, que desde 2014 não tinham capacidade de projeção de poder naval com porta-aviões.

Analistas navais têm dúvidas acerca da sustentabilidade de manutenção de tal força no mar, ainda mais porque a conta vai dobrar quando o irmão gêmeo do navio, o HMS Prince of Wales, estiver operacional.

Seja como for, o governo de Boris Johnson quer retomar o papel de protagonismo na aliança com os Estados Unidos, mesmo fora do escopo da Otan (aliança militar ocidental). Assim, a bordo do Queen Elizabeth há 8 caças ultramodernos F-35B britânicos, mas 10 americanos.

A presença de um destróier de Washington, além de outro holandês, também servem ao propósito de provar capacidade de liderança operacional em um meio que basicamente só vinha registrando desenvolvimentos importantes nos EUA e na China, com algumas novidades pontuais da Rússia.

O Queen Elizabeth já se exercitou no Mediterrâneo com forças francesas e aliadas, e participou de ataques a posições do grupo terrorista Estado Islâmico na Síria. O grupo não opera o tempo todo unido.

Nessa parte da operação, por exemplo, o destróier HMS Defender, foi acompanhado da fragata holandesa HNLMS Evertsen para o mar Negro. Lá, o navio britânico foi recebido com tiros de advertência pela Guarda Costeira russa, no mais sério incidente do tipo desde a Guerra Fria.

O navio passou por águas costeiras da Crimeia, anexada por Moscou em 2014 e que a comunidade internacional considera parte da Ucrânia. Logo depois, a Evertsen foi acossada por jatos russos, que simularam ataques a ela, o que gerou protesto da Holanda.

Na semana passada, o Queen Elizabeth cruzou o canal de Suez rumo ao Índico, onde começará a se exercitar em águas de interesse estratégico chinês. Mais à frente, deverá navegar no mar do Sul da China, que Pequim considera 85% seu, em mais uma sinalização de disposição de enfrentamento.

Além do interesse geopolítico ocidental de conter os chineses no escopo da Guerra Fria 2.0, no caso do Reino Unido há o agravante de que Londres está especialmente agastada com a repressão de Pequim em Hong Kong, que considera violar o tratado pelo qual devolveu a antiga colônia à China em 1997.