O céu estava tão azul quanto há 20 anos, nos dias finais do verão nova-iorquino. A cerimônia em homenagem às 2.977 vítimas nos 20 anos do maior ataque terrorista da história dos EUA começou às 8h41 locais deste sábado (11) com a entrega da bandeira americana por representantes das forças que atuaram nos resgates naquele dia e tiveram perdas -bombeiros, policiais e outros.Foi seguida por um minuto de silêncio às 8h46, quando o primeiro avião chocou-se com a torre norte. O marco seria repetido cronologicamente: segundo avião (9h03), Pentágono atingido (9h37), queda da torre sul (9h59), queda de avião na Pensilvânia (10h03) e queda da torre norte (10h28), encerrando assim os 102 minutos da cerimônia.Durante os 102 minutos, ao som de música erudita, duplas de parentes subiam a um palco, tiravam suas máscaras e liam blocos de nomes dos mortos naquele dia. Na plateia, muitos seguravam smartphones filmando a execução do hino nacional, os políticos e artistas presentes e levantavam cartazes com fotos.Também na plateia, em pé ao redor das duas piscinas com os nomes dos mortos gravados nas bordas, o presidente Joe Biden e seus antecessores democratas, Barack Obama (2009-2017) e Bill Clinton (1993-2001), junto de sua mulher, Hillary, que em 11 de setembro de 2001 era senadora pelo Estado de Nova York."Esta nação é muito grande, muito forte, muito unida, muito poderosa em termos de nossa coesão e nossos valores para deixar que isso nos divida", disse Joe Biden em entrevista antes da cerimônia. "E isso não vai acontecer."Havia temor de que o presidente pudesse ser vaiado, dado o momento político polarizado por que passa o país, mas isso não aconteceu. O republicano George W. Bush (2001-2009) liderou também sem incidentes a cerimônia em Shanksville, na Pensilvânia.Foi num campo naquela cidade que o avião do voo United 93 caiu, acredita-se que por ação dos passageiros, que teriam conseguiram enfrentar os terroristas. Acredita-se que a aeronave iria se chocar com a Casa Branca ou o Capitólio, sede do Legislativo americano, naquele dia.O republicano Donald Trump, antecessor de Biden, não participou de cerimônias oficiais. Na véspera, deu declarações polêmicas a respeito daquele dia. Disse que foi à região dos ataques tão logo soube deles e levou várias pessoas com ele para ajudar nos resgates.No entanto, não há registro dele ali naquele dia. Há, sim, uma entrevista dada à emissora local NY1 naquela manhã do político notabilizado por disseminar fake news dizendo que assistiu a tudo da janela da Trump Tower, 11 quilômetros distante do ataque onde estava.Naquele mesmo dia, Trump deu entrevista afirmando que, com a queda das torres, seu prédio em Wall Street passaria a ser o mais alto de Nova York -na verdade, o marco passou a ser o Empire State Building-- e que tinha visto muçulmanos celebrando o ataque nas ruas de Nova Jersey, o que nunca foi comprovado por fontes fidedignas ou mesmo imagens.Ao final de cada bloco, duplas de parentes falavam algumas palavras sobre sua própria perda, em inglês, mas também em espanhol e russo -as vítimas vinham de 70 países, incluindo cinco do Brasil, embora apenas três estejam oficialmente na lista.Num dos intervalos, Bruce Springsteen, um dos principais músicos do Estado vizinho de Nova Jersey, o segundo em número de mortos naquele dia, atrás de Nova York, tocou "I'll See You in My Dreams" (eu verei você em meus sonhos) . À noite, a tradicional cerimônia "Tribute in Light" deve colocar de novo nos céus do sul de Manhattan dois feixes de luz relembrando as torres derrubadas há 20 anos.