Manifestantes pró-democracia voltaram às ruas em Mianmar nesta segunda-feira (15), mas em número reduzido depois que as Forças Armadas anunciaram o envio de tropas e veículos blindados para reprimir os protestos.

"Esta é uma batalha pelo nosso futuro, pelo futuro do nosso país", disse a ativista Esther Ze Naw durante protesto em Rangoon, a maior cidade do país. "Nós não queremos viver sob uma ditadura militar. Queremos instaurar uma união federativa verdadeira, onde todos os cidadãos e todas as etnias sejam tratadas de forma igualitária".

Ao menos duas pessoas ficaram feridas em confrontos com as forças de segurança nesta segunda na cidade de Mandalay. Na capital, Naypyitaw, dezenas de pessoas foram presas, incluindo ao menos 20 estudantes.

Houve bloqueios da internet durante a noite, mas a conexão havia sido restabelecida pela manhã. Nas últimas semanas, os militares ordenaram o bloqueio temporário de redes sociais para garantir a "estabilidade" do país.

Além de protestos de rua, cidadãos mianmarenses vêm organizando campanhas de desobediência civil, assim como chamados de greve entre servidores públicos ligados ao governo pré-golpe.

O general à frente da junta militar que governa o país, Min Aung Hlaing, voltou a fazer ameaças contra os manifestantes nesta segunda. "Serão tomadas ações efetivas contra pessoas que prejudicarem o país cometendo traição por meio da violência", afirmou.

A crise no país asiático pôs fim à recente transição democrática após reacender a tensão entre o governo civil e as Forças Armadas -que comandaram o país entre 1962 e 2011- e gerou preocupação pela volta à antiga era de repressão.

Os militares tomaram o poder após a Liga Nacional pela Democracia (LND), partido de Suu Kyi e maior agremiação civil do país, vencer as eleições de novembro.

A LND, que comanda o país desde 2015, obteve 83% dos votos e conquistou 396 dos 476 assentos no Parlamento no pleito de novembro, mas foi impedida de assumir quando o golpe foi aplicado no dia da posse da nova legislatura. O Partido da União Solidária e Desenvolvimento, apoiado pelos militares, obteve apenas 33 cadeiras.

As Forças Armadas alegam ter havido fraude eleitoral. Ao assumirem o poder, os militares declararam um estado de emergência que deve durar pelo menos um ano até a realização de um novo pleito.

 

CRONOLOGIA DA HISTÓRIA POLÍTICA DE MIANMAR  

1948: Ex-colônia britânica, Mianmar se torna um país independente

1962: General Ne Win abole a Constituição de 1947 e instaura um regime militar

1974: Começa a vigorar a primeira Constituição pós-independência

1988: Repressão violenta a protestos contra o regime militar gera críticas internacionais

1990: Liga Nacional pela Democracia (LND), de oposição ao regime, vence primeira eleição multipartidária em 30 anos e é impedida de assumir o poder

1991: Aung San Suu Kyi, da LND, ganha o Nobel da Paz

1997: EUA e UE impõe sanções contra Mianmar por violações de direitos humanos e desrespeito aos resultados das eleições

2008: Assembleia aprova nova Constituição

2011: Thein Sein, general reformado, é eleito presidente e o regime militar é dissolvido

2015: LND conquista maioria nas duas Casas do Parlamento

2016: Htin Kyaw é eleito o primeiro presidente civil desde o golpe de 1962 e Suu Kyi assume como Conselheira de Estado, cargo equivalente ao de primeiro-ministro

2018: Kyaw renuncia e Win Myint assume a Presidência

2020: Em eleições parlamentares, LND recebe 83% dos votos e derrota partido pró-militar

2021: Militares alegam fraude no pleito, prendem lideranças da LND, e assumem o poder com novo golpe de Estado ​