Um dos grandes atores brasileiros, com 50 anos de carreira, e também diretor e crítico de cinema, José Wilker morreu na manhã de ontem, no Rio de Janeiro, aos 66 anos, do coração. Ele estava dormindo no apartamento da namorada, a jornalista Claudia Montenegro, em Ipanema, quando teve um enfarte agudo do miocárdio, por volta das 10 horas. Não teve tempo de ser hospitalizado.

Wilker foi dormir bem na madrugada, depois de ensaiar uma peça que pretendia estrear com o ator Ary Fontoura. Colegas da TV, do teatro e do cinema acordaram atônitos com a notícia, uma vez que Wilker tinha boa saúde. Reconfortaram-se com o fato de ele ter morrido dormindo, sem sofrimento. O velório começaria no final da noite de ontem, no Teatro Ipanema, Zona Sul do Rio. Já a cremação do corpo está prevista para o fim da tarde de hoje, no Memorial do Carmo, no Caju, Zona Portuária.

 

Emoção

A atriz Renata Sorrah, amiga desde os anos 1960, disse que “todo mundo ficou chocado”. “Ele não tinha nenhum problema de saúde. Além de ser meu amigo, foi o ator com quem mais trabalhei. Fiz a primeira peça que ele escreveu e estreou no Rio, Trágico acidente que destronou Tereza (de 1968). Eu já fiz tanta coisa com ele. Era uma peça atrás da outra. Era um ator brilhante, um homem brilhante. Foi um homem de teatro, e depois de cinema e de TV”

O ator Marcelo Serrado, que ano passado foi dirigido por Wilker na peça Rain Man, conversou com o amigo longamente pelo telefone no sábado, e que ele estava perfeitamente normal. “Eu estou tão devastado que não consigo falar. A classe inteira está assim. A gente tinha um projeto junto para a Rede Globo, que estávamos bolando, e íamos fazer uma peça. Ele não tinha nenhum problema, o que aconteceu é uma coisa da vida para a qual não existe explicação.”

A atriz Malu Mader deu entrevista por telefone em estado de choque. “Foi um susto. Ele era um apaixonado pela profissão, dava uma dimensão profunda a ela. Com Wilker em cena, se entendia o porquê de se estar ali. Era uma inspiração na minha carreira”, disse Malu, que trabalhou com ele há seis anos, no filme Sexo com amor?. O ator Humberto Martins lembrou do lado crítico de cinema. “É uma grande perda, ele era muito atento e participativo.”

 

Talento

Amável e educado, Wilker era conhecido por ser extremamente culto. Era colecionador de DVDs de filmes (tinha mais de oito mil) e livros (mais de dez mil) e apaixonado pelo trabalho de colegas americanos, como Marlon Brando, Robert de Niro e Al Pacino.

Tinha carinho especial por personagens como o Vadinho de Dona Flor e seus dois maridos, seu maior sucesso no cinema e, recentemente, mesmo com cinco décadas de dramaturgia, revelou, numa entrevista: “Eu sou uma pessoa que até hoje não sabe se quer ser ator. Eu tenho crises e falo: ‘Ah, essa coisa não é a minha praia, não quero fazer mais isso’. Na minha cabeça, devo ter 20 anos de idade. Tenho o mesmo tipo de furor que lembro de ter tido aos cronológicos 20 anos, tenho o mesmo tipo de dúvida, de inquietação, de seguranças e inseguranças”.