O ditador sírio Bashar al-Assad foi reeleito nesta quinta-feira (27) para mais sete anos no comando do país, em um resultado já esperado -a oposição boicotou a votação e a maior parte da comunidade internacional não reconheceu a legitimidade do pleito.

Assad recebeu 95,1% dos votos na eleição realizada na quarta (26), contra 1,5% do ex-ministro Abdullah Salloum Abdullah e 3,3% de Mahmoud Ahmad Marei, integrante de um dos poucos partidos de oposição tolerados pelo regime. Com a vitória, o ditador terá seu quarto mandato como presidente do país.

O anúncio foi feito pelo presidente do Parlamento, Hammouda Sabbagh, um aliado de Assad. Segundo ele, 14,2 milhões de pessoas votaram no pleito, uma participação de quase 78%. A Síria não possui um órgão eleitoral independente que possa atestar a veracidade dos números e a entrada de observadores internacionais não foi permitida.

Mesmo assim, o resultado indica uma melhora nos números de Assad, que na eleição anterior, em 2014, tinha recebido 88,7% dos votos. Apesar disso, ele ficou distante do recorde alcançado por seu pai, o também ditador Hafez al-Assad, que sempre disputou as eleições como candidato único e por diversas vezes recebeu 100% dos votos.

Embora na prática o resultado não altere em nada a configuração política do país, a expectativa é que o regime utilize a vitória no pleito para tentar mostrar ao resto do mundo que enfim superou os dez anos de guerra civil, além das disputas étnicas. Após o anúncio, houve queima de fogos de artifício na capital, Damasco, e pessoas foram para as ruas da cidade comemorar. Até o momento não há registro de atos de protestos ou de violência nas regiões que se opõem ao regime.

A Síria tem uma das ditaduras mais autoritárias do planeta e ocupa os últimos lugares nos rankings internacionais que medem a qualidade da democracia --do recorde de 51 candidatos que se inscreveram para concorrer no pleito de 2021, 48 foram barrados.

Assad escolheu o combate ao desemprego como principal mote de sua campanha, prometendo que haverá trabalho para todos na reconstrução do país.

Durante a votação, os cerca de 12 mil locais de votação foram adornados com fotos e imagens do ditador, que também monopoliza a mídia estatal. Segundo a rede de TV catariana Al Jazeera, do lado de fora desses locais apoiadores de Assad realizaram ações para atrair eleitores e celebrar o regime.

Para tentar aumentar o comparecimento, o regime organizou grandes atos de apoio ao ditador nos últimos dias, e funcionários públicos foram intimados a votar.

Nesse cenário, os governos de EUA, Reino Unido, França, Itália e Alemanha afirmaram em um comunicado conjunto na quarta que o pleito não foi "nem livre nem justo". O grupo pediu que o regime permitisse que a ONU organizasse a votação e que fosse permitida a participação de todos os refugiados internos no país --cerca de 11 milhões de pessoas tiveram que deixar suas casas devido ao atual conflito. O regime não aceitou nenhuma das exigências.

"Como Estado, nós não nos importamos com esses comunicados. O valor dessas opiniões é zero", afirmou o ditador em resposta aos cinco países depois de votar na quarta em Douma, cidade que fica nos arredores de Damasco. "A Síria não é o que eles [as potências ocidentais] tentam fazer parecer, uma cidade contra a outra, uma tribo contra a outra, ou uma guerra civil", completou.

Em 2018, Douma foi palco de um ataque com arma química que deixou ao menos 50 mortos, e a suspeita é a de que a ação tenha sido feita pelo regime --o caso levou Paris, Londres e Washington a ordenarem um bombardeio em retaliação.

Essa é apenas uma das denúncias de crimes de guerra ou contra a humanidade que pesam contra Assad, no poder desde 2000. Ele assumiu o comando do país depois da morte de seu pai, Hafez, que havia tomado o controle por meio de um golpe em 1970 e que passou as três décadas seguintes como ditador.

Bashar al-Assad, que é médico, era considerado um reformista dentro do regime, e sua ascensão foi inicialmente bem recebida pelo Ocidente, que via nele uma chance de abertura. A situação mudou em 2011, quando eclodiram os protestos contra o ditador em meio à Primavera Árabe e, na sequência, a guerra civil. O conflito já deixou mais de 350 mil mortos em uma década, destruiu a economia e a infraestrutura do país e jogou 90% da população na pobreza.

Mesmo assim, o ditador conseguiu se manter no poder --em grande parte graças ao apoio da Rússia e do Irã, que funcionam como fiadores internacionais do regime.

O cenário atual é bem diferente, assim, daquele do início da guerra, quando o líder sírio chegou a ter sua posição de comando ameaçada após suas tropas perderem terreno tanto para forças rebeldes pró-democracia quanto para o Estado Islâmico.

O reforço militar de Teerã e Moscou, porém, garantiu a sobrevivência do regime, que aos poucos recuperou a área perdida e atualmente controla cerca de 70% do território sírio.