Em entrevista concedida ao "Fantástico", neste domingo (29), a jovem que afirma ter sido vítima de um estupro coletivo no Rio de Janeiro, disse que está se sentindo envergonhada e que foi alvo de diversas ameaças na internet. "Quando eu entrei no Facebook tinha mil mensagens, gente de Minas Gerais falando que ia me matar, falaram que se eu fosse em alguma comunidade, iria morrer". 

Um dos momentos mais emocionantes da entrevista, a jovem contou que a partir de agora quer esquecer essa história e tentar seguir em frente. Ao responder sobre o que desejava para os homens que a violentaram, a adolescente disse: "sinceramente, uma filha mulher". 

A jovem negou, ao ser questionada pela repórter Renata Ceribelli, se já havia sido violentada alguma vez e afirmou que a cena que viu quando abriu os olhos em uma casa desconhecida não lhe sai da cabeça. "Quando eu acordei tinha um menino embaixo de mim, outro em cima e dois me segurando. Ai eu comecei a chorar, tinham muitos homens no quarto, fuzis, pistolas, a casa suja e eu também, muito suja", contou. 

Ela acredita que foi dopada. "Eu dormi muito tempo, não é possível que tinham aqueles homens todos e eu não ia acordar se eu não tivesse dopada". A jovem contou à jornalista que quando chegou em casa após o episódio não cogitou a ideia de contar o ocorrido para ninguém por sentir-se envergonhada.

Indignada, a adolescente falou que têm pessoas que estão dizendo que ela está mentindo. "Tem um vídeo para provar que eu estava numa cama desacordada, eles mexeram em mim, tem fotos, pra mim só isso já basta", destacou. 

A jovem contou ainda que não se sentiu à vontade quando prestou depoimento na delegacia. "Tentaram me incriminar, como se eu tivesse culpa de ser estuprada. Eu pedi para o delegado parar o depoimento, tinham três homens dentro de uma sala de vidro, todo mundo que passava via, ele botou na mesa fotos e o vídeo e me pediu 'me conta aí'. Só falou isso, não perguntou como eu estava me sentindo", desabafou a jovem.

Ainda em relação à postura do delegado, ela contou que ele perguntou se ela tinha o costume e se gostava de fazer isso. "Nesse momento eu pedi para ele parar e disse que não iria mais responder", concluiu. 

Mudança nas investigações

A Polícia Civil do Rio anunciou neste domingo (29) que a delegada Cristiana Bento, titular da DCAV (Delegacia da Criança e do Adolescente Vítima), vai assumir o comando da investigação do caso de estupro coletivo de uma menor de 16 anos no Rio.

A mudança foi feita após pressão da defesa da vítima e do Ministério Público, que pediram o afastamento do delegado Alessandro Thiers, da Delegacia de Repressão a Crimes de Informática, responsável pela apuração do crime.

"A medida visa evidenciar o caráter protetivo à vítima na condução da investigação, bem como afastar futuros questionamentos de parcialidade no trabalho", diz a nota da Polícia Civil.

Advogada dispensada

A advogada Eloisa Samy confirmou, na noite deste domingo (29), que deixou o caso da adolescente de 16 anos, que teria sido estuprada por mais de 30 homens, há uma semana, em uma comunidade da zona oeste do Rio de Janeiro.

Em ligação telefônica, a advogada disse que deixou a defesa a pedido da avó da jovem. Segundo Eloisa, a avó da adolescente agradeceu sua dedicação no caso, mas ressaltou que, a partir de agora, o caso está aos cuidados da Secretaria de Direitos Humanos do estado.

"Estou aliviada. Na verdade, eu não imaginava que a denúncia tivesse esse alcance todo. E eu não tenho pernas para isso. Sou autônoma, não tenho um grande escritório por trás de mim e faço isso pela militância feminina mesmo", afirmou Eloisa.

A advogada destacou que, só neste ano, Já atendeu mais de 30 mulheres em situação semelhante à da adolescente, sem que nada aparecesse na imprensa. "Estou surpresa com essa repercussão toda", disse a advogada.

Programa de proteção

A adolescente de 16 anos, vítima de um estupro coletivo no Rio de Janeiro, entrou neste domingo (29) para a guarda do Programa de Proteção a Crianças e Adolescentes Ameaçados de Morte.

A jovem e sua família já deixaram a casa onde vivem, na zona oeste do Rio, medida que faz parte do programa. O lugar onde ela passará a viver ficará sob sigilo.
A família dispensou a advogada que cuidava do caso, Eloisa Samy. Sua defesa passará a ser feita pela Defensoria Pública.