Em retaliação ao comunicado do G7, no qual o grupo que reúne sete das principais economias mundiais defendeu Taiwan, o governo da China realizou a maior incursão de aviões militares contra o espaço aéreo da ilha em sua história."Nós nunca iremos tolerar tentativas de buscar a independência ou a intervenção temerária na questão de Taiwan por forças estrangeiras, então precisamos dar uma resposta forte a esses atos de conluio", disse Ma Xiaoguang, porta-voz do Escritório de Assuntos de Taiwan em Pequim.Os chineses enviaram na terça (15) 28 aviões até a Adiz (sigla inglesa para Zona de Identificação de Defesa Aérea) de Taiwan, obrigando o envio de caças para interceptação.Estiveram envolvidos na operação 14 caças J-16, 6 caças J-11 e 4 bombardeiros com capacidade nuclear H-6K, além de aeronaves de vigilância.É uma escalada: desde o começo do ano os recordes desse tipo de ação, que visa testar a rapidez de reação do adversário, foram batidos. Em março, foram 20 aviões. Um mês depois, 25.No domingo (13), o clube dos países ricos composto por EUA, Reino Unido, França, Alemanha, Itália, Canadá e Japão havia divulgado um comunicado com diversas condenações a posições da China, inclusive pedindo paz e estabilidade com Taiwan.O tom foi estimulado por Joe Biden, presidente americano que está em uma turnê europeia e tem em Pequim seu maior rival estratégico declarado. Em sua primeira etapa, ele conseguiu pontos agregando aliados que haviam sido afastados pelo antecessor, Donald Trump, e obtendo gestos contra a China.Nesta quarta (16), ele encerra a viagem com um outro problema, a relação com a Rússia, em cúpula com Vladimir Putin em Genebra. A China, por meio de sua embaixada em Londres, já havia chamado o documento do G7 de "difamatório". E afirmou que a inclusão do país em comunicado da Otan, a aliança militar ocidental, na segunda (14), era uma ameaça despropositada.Agora, dá um sinal mais palpável sobre o que considera linhas vermelhas em sua relação com os EUA e o Ocidente em geral. Notável que o G7 inclua o Japão, que sempre foi cuidadoso em seu apoio aos intentos da ilha autônoma. Analistas especulam que Tóquio poderia ser até mais incisivo do que Washington no caso de a situação escalar para uma guerra de ocupação de Taiwan.Tal conflito é um dos maiores temores estratégicos no mundo por opor militarmente Pequim a Washington. Desde que os países reataram diplomaticamente, em 1979, os EUA reconhecem Taiwan como território chinês, mas não na prática: fornece armas e tem um compromisso para defender a ilha em caso de invasão.A ditadura comunista não descarta tal ação, embora, além do custo estratégico, haja o temor tático de não conseguir a absorção da ilha —ou lograr sucesso com terra arrasada, o que não é do desejo de ninguém.Desde o ano passado, ainda sob Trump e sua Guerra Fria 2.0, os EUA alavancaram seu relacionamento com Taiwan, aumentando os protestos militares de Pequim.A incursão desta terça ocorreu no momento em que os EUA exercitam um de seus grupos de porta-aviões, liderado pelo USS Ronald Reagan, em áreas no mar do Sul da China, outro ponto de atrito militar entre americanos e chineses.Segundo a Marinha americana, não houve contatos entre o grupo de ataque e os aviões chineses, embora esse seja o risco sempre colocado nesse tipo de manobra.