O governador catalão, Carles Puigdemont, anunciou em uma sessão do Parlamento nesta terça-feira, 10, a independência da região, em desafio à Espanha, mas pediu negociações com o governo central. Durante seu pronunciamento, o líder suspendeu o efeito da própria declaração para possibilitar diálogo com Madri. "Assumo o mandato do povo da Catalunha para que seja um Estado independente. (...) Peço ao Parlamento que suspenda a declaração de independência para iniciar um diálogo nas próximas semanas", declarou o líder catalão. "Nosso governo não se distanciará da democracia." A separação é considerada ilegal pelo governo espanhol.

"Nada, nem a violência, impediu o plebiscito", disse Puigdemont, e enviou seus sentimentos aos manifestantes que foram feridos no dia da votação, realizada no dia 1.º. Ele também ressaltou a importância de "desescalar a tensão" e não contribuir para aumentá-la, explicando que sua declaração não era por "vontade pessoal, nem obsessão, e sim pelos resultados" do pleito.

A sessão começou com uma hora de atraso por um pedido do próprio Puigdemont em razão de "contatos para uma mediação internacional". O governo espanhol desmentiu rapidamente essa informação, indicaram fontes da agência de notícias France-Presse.

"Nenhuma instituição espanhola está aberta a falar sobre o nosso futuro. (...) A relação que temos com a Espanha hoje não funciona", disse Puigdemont.

A região vive há três anos campanhas intensas pela separação e protestos nas ruas. Em meio às tentativas de Madri de barrar o movimento, a polícia da Espanha chegou a anunciar que estaria pronta fora do Parlamento para prender Puigdemont, caso ele declarasse independência.

Antes do pronunciamento, o porta-voz do governo espanhol havia pedido a Puigdemont para “não fazer nada irreversível”. “Quero pedir ao senhor Puigdemont que não faça nada irreversível, que não siga nenhum caminho que não tenha volta, que não leve a cabo nenhuma declaração unilateral de independência, que volte à legalidade”, disse Íñigo Méndez de Vigo.

“A Europa já disse com toda a clareza que não aceitará uma declaração de independência da Catalunha”, afirmou ele, em referência às declarações de líderes europeus em apoio ao governo do premiê Mariano Rajoy.

A Assembleia Nacional Catalã, ONG que luta pela independência da região, havia convocado partidários da separação para que se concentrassem em frente à sede do Legislativo visando garantir que a declaração unilateral ocorresse. Nesta manhã, a polícia fechou ao público o Parque de la Ciutadella, onde fica o Parlamento regional da Catalunha, como medida de segurança.

No plebiscito do dia 1.º, segundo os resultados divulgados pelo governo catalão, 2,02 milhões de pessoas votaram a favor da independência – 90% dos 2,2 milhões dos votos. O “não” teve o respaldo de 166,5 mil eleitores. Isto quer dizer que 41,5% dos 5,3 milhões de eleitores foram às urnas. Houve denúncias de que eleitores votaram mais de uma vez, por falta de controles. A polícia subordinada a Madri reprimiu centenas de separatistas