Dos cerca de 1.300 brasileiros que se cadastraram junto à embaixada brasileira em Lima, no Peru, 639 já retornaram ao País. O grupo mais recente chegou no aeroporto de Guarulhos, em São Paulo, no sábado à noite, após uma saga para conseguir sair de Cusco. Mas muita gente ainda está no Peru esperando o "resgate" após o presidente Martín Vizcarra decretar o fechamento das fronteiras do país para tentar conter o avanço da pandemia de coronavírus, no domingo retrasado, dia 15.

Na noite de segunda-feira, a Embaixada do Brasil no Peru informou que será realizado nesta terça um voo operado pela Latam saindo de Cusco com destino a São Paulo. Os turistas precisam se apresentar na Plaza de Armas, às 6h30, mas não há embarque garantido para todos. A Latam vai elaborar a lista de passageiros. A Embaixada ainda informou que planeja um voo da Força Aérea Brasileira nesta quarta-feira, também saindo de Cusco.

Dois oficiais do governo brasileiro foram para Cusco para tentar resolver a situação de centenas de pessoas, algumas que possuem problemas e precisam retornar ao Brasil com urgência. "Um conhecido meu ficou em Cusco e ele tem câncer. Estava com o nome na lista do Itamaraty, mas por algum motivo não foi chamado para entrar no aeroporto, acabou ficando lá e não embarcou. Quero continuar ajudando a repatriar esses brasileiros que ainda estão lá", explicou Fernando Mustafá, brasileiro que conseguiu retornar no sábado em um voo fretado da Latam.

Entre sair de seu hotel onde estava de quarentena porque tudo foi fechado no Peru e chegar em casa, ele levou mais de 15 horas ao lado da esposa. E passou por momentos de muita tensão e apreensão, sem saber se finalmente conseguiria embarcar - seu voo inicial era na terça-feira passada, mas foi cancelado. "Na sexta-feira, dia 20, por volta das 17h30, foi divulgado através do site da embaixada brasileira em Lima a lista de turistas que regressariam para o País no sábado dia 21. Essa lista, de acordo com a embaixada, poderia sofrer alterações, pois não era garantido que a Latam seguiria essa relação", contou.

Ele tinha de chegar na Plaza de Armas, em Cusco, às 6h30 da manhã. Foi com a esposa e logo viu um aparato policial e militar gigantesco para levar os turistas do centro da cidade até o aeroporto. "Parecia um campo de concentração. Ficamos numa fila, com o exército em volta junto com a polícia peruana, clima pesado mesmo. Todos foram identificados e esperamos por cerca de uma hora. Uma parte foi de ônibus e quem não coube teve de ir em caminhões militares", disse.

Só que chegando próximo ao aeroporto, ele viu que outros brasileiros que não estavam na lista do Itamaraty resolveram aparecer por lá também, para ver se tinha encaixe em algum voo e na esperança de retornar. A polícia peruana então pediu ajuda para um brasileiro chamar os nomes de uma lista pelo megafone. "Só que essa lista peruana era diferente da que foi compartilhada pela embaixada. Depois apareceu uma nova lista, chamaram só minha esposa, eu fui barrado, mas falei para ela seguir e eu fiquei esperando."

Fernando também acabou sendo chamado e relatou que só era permitido entrar de máscara no aeroporto, depois de passar por fiscalização de documentos e cães farejadores. "Foi um processo cansativo, estressante, e ficamos uma hora na sala de embarque. Então decolamos com destino a Lima, trocamos de avião lá e viemos para o Brasil. Aterrissou às 22h de sábado em Guarulhos, e muitos ainda tiveram de esperar por outros voos de conexão para suas cidades", afirmou. "Senti na pele essa angústia e sensação de desespero por tudo o que o mundo está passando", continuou.