O ex-presidente linha-dura Mahmoud Ahmadinejad apresentou nesta quarta-feira (12) seu nome como potencial candidato na eleição presidencial do Irã, em um gesto que surpreendeu o país e foi visto como um desafio às autoridades religiosas.

O líder supremo do Irã, o aiatolá Ali Khamanei, vem tentando dissuadir Ahmadinejad de buscar um novo mandato no pleito de 19 de maio para evitar uma "polarização nociva" ao país.

No período em que governou o Irã, entre 2005 e 2013, Ahmadinejad manteve uma retórica belicosa e promoveu um programa nuclear que levou as potências mundiais a isolarem a economia do país por meio de sanções. Após sua reeleição em 2009, em um pleito contestado pela oposição, seu governo reprimiu uma série de protestos, deixando dezenas de mortos e milhares de detidos.

Nesta quarta (12), após apresentar sua candidatura às autoridades do país, o ex-presidente afirmou que as declarações de Khamenei são apenas "um conselho" e não o impedem de concorrer. "Há enorme pressão sobre mim de pessoas queridas de diferentes posições na sociedade para que seu modesto servo participe da eleição", afirmou.

Além disso, Ahmadinejad disse que sua decisão de participar da corrida eleitoral serve para respaldar a candidatura de seu aliado e ex-vice-presidente Hamid Baghaei, que também se postulou à Presidência. Recentemente, Baghei passou alguns meses na prisão em um processo confidencial - especula-se que ele seja acusado de corrupção.

O analista iraniano Soroush Farhadian disse à agência de notícias Associated Press que o gesto de Ahmadinejad representa um "motim organizado contra o sistema de governo do Irã".

O processo de inscrição na eleição começou na terça (11) e termina no sábado (15). Depois disso, o nome de todos os postulantes será analisado pelo Conselho

Guardião, órgão clerical indicado pelo aiatolá que deve selecionar os candidatos com base em suas credenciais políticas e religiosas. Uma lista final de candidatos deverá ser apresentada em 27 de abril.

Embora ainda não tenha formalizado sua candidatura, espera-se que o presidente reformista Hassan Rouhani busque um novo mandato.

Desde que assumiu a Presidência, em 2013, Rouhani tem se esforçado para reduzir o isolamento internacional do Irã e, em 2015, seu governou assinou um acordo histórico com potências mundiais para restringir o programa nuclear da república islâmica em troca do alívio de sanções econômicas. As negociações tiveram a chancela do aiatolá.

Uma eventual derrota de Rouhani para os conservadores abriria caminho para novas tensões internacionais, agravada pela retórica anti-Irã do governo de Donald Trump nos Estados Unidos. Durante a campanha eleitoral do ano passado, o republicano ameaçou rasgar o acordo nuclear, mas ainda não adotou medidas efetivas contra o país em seus três primeiros meses de mandato.