Viajar de avião significa ficar em um local fechado com pessoas desconhecidas que podem ou não estar infectadas com o novo coronavírus. Mas, com o sistema de filtragem do ar das aeronaves e o uso de máscara, o risco de transmissão é reduzido.O ar da cabine é renovado a cada três minutos. Metade desse fluxo vem de fora do avião e metade passa por filtros Hepa, sistema de alta eficiência que retém 99,9% dos vírus.Além disso, não há correntes de vento no sentido do comprimento da aeronave. O ar sai do teto e flui para aberturas no chão, circulando praticamente dentro da mesma fileira de assentos.Esse sistema garante ao passageiro um risco menor de contrair a Covid-19 do que no metrô ou numa sala de aula. É o que diz um artigo publicado neste mês na revista científica Jama (Journal of the American Medical Association) por pesquisadores de instituições dos EUA e da Suíça.Os autores afirmam que, em todo o mundo, os casos suspeitos ou confirmados de transmissão do Sars-Cov-2 durante viagens de avião são aproximadamente 42.Mas o artigo ressalta que, ainda assim, existe o perigo de contágio a partir do contato direto com um passageiro infectado, que é reduzido pelo uso de máscaras.“O risco é baixo, mas não é zero. Onde há pessoas há risco de transmissão”, diz Gustavo Johanson, infectologista especializado em medicina do viajante do Hospital Israelita Albert Einstein.Segundo ele, quem se senta ao lado, à frente ou atrás de alguém doente tem mais probabilidade de se infectar.Além de tornar obrigatório o uso de máscaras, as três grandes companhias nacionais, Gol, Latam e Azul, reorganizaram o embarque e o desembarque —que agora é feito por fileiras para evitar tumulto na saída do avião.As cabines passam por limpeza a cada viagem feita, e o serviço de bordo foi simplificado ou suspenso em voos de curta duração. Nenhuma das empresas brasileiras, porém, restringiu a ocupação das aeronaves —a americana Delta, por exemplo, anunciou que adotará a política de assentos do meio vazios até janeiro.A própria Iata (Associação Internacional de Transporte Aéreo) não apoia a medida, porque a considera economicamente inviável.A lotação do avião foi a maior preocupação do advogado Leonardo Zanutto, 55, ao viajar a Londrina, partindo do aeroporto de Guarulhos, para fazer um tratamento odontológico no início de setembro.Ele conta que, tanto na ida quanto na volta, todos tiveram a temperatura medida antes de entrar na aeronave e que houve organização no embarque e no desembarque. “O problema foi ter que me sentar ao lado de outra pessoa. Não dá para manter o distanciamento.”Um estudo da MIT Sloan School of Management (EUA) avaliou que deixar a poltrona do meio livre pode reduzir a chance de infecção pelo Sars-Cov-2 quase à metade: de 1 em 4.300 para 1 em 7.700.Para chegar a esse cálculo, o professor de estatística Arnold Barnett levou em consideração viagens de até duas horas realizadas nos Estados Unidos em aeronaves com três poltronas de cada lado, onde todos estejam usando máscara.A probabilidade de contaminação diminui em voos feitos em países com poucos casos de Covid-19 e aumenta em viagens mais demoradas.“Em voos longos, as pessoas podem perder o instinto de vigilância e acabar se desprecavendo”, afirma a virologista Jordana Coelho dos Reis, do Instituto de Ciências Biológicas da UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais).O risco também cresce por causa da necessidade que os passageiros têm de se alimentar, o que requer a retirada da máscara, e de ir ao banheiro, aumentando a movimentação dentro da cabine.Quem se senta na poltrona da janela e não sai do lugar durante o voo tem uma menor probabilidade de se contaminar, porque reduz as chances de contato com um indivíduo infectado, afirma a infectologista Tânia Chaves, coordenadora do comitê de medicina de viagem da Sociedade Brasileira de Infectologia.O ideal é que o viajante evite comer a bordo. Se isso for mesmo preciso, ele não deve se alimentar ao mesmo tempo que os passageiros à sua volta.A médica recomenda que pessoas do grupo de risco usem máscara tipo N95 se precisarem voar. Os demais viajantes podem optar pela máscara de tecido ou cirúrgica e trocá-la sempre que ficar umedecida. Também deve ser constante a higiene das mãos.Para Reis, antes de decidir pela viagem de avião é fundamental avaliar todas as etapas do trajeto, desde a saída de casa. “A viagem pode ter sua importância, porque o isolamento gerou processos mentais difíceis. Ela é válida, desde que seja feita de maneira segura e mais rápida possível.”Já Chaves afirma que a recomendação é fazer apenas viagens essenciais. “Pior que adoecer é adoecer longe de casa”, diz ela, que também é professora da UFPA (Universidade Federal do Pará).-Imagem (1.2135165)