A comunidade do Mumbuca, localizada no município de Mateiros, na região do Jalapão, parece uma típica vila pacata. O ar bucólico traz a paisagem de casas sem muros, com a cobertura dos telhados feitos de palha, paredes com bambus entrelaçados e tijolos de barro ao natural, sem reboco ou tinta. Dentro das residências há sempre artigos de capim dourado espalhados pelos cômodos como uma espécie de amuletos da sorte, já que a cultura desses artesanatos aos poucos vem mudando para melhor a vida de quem mora na região.Tradição, arte e cultura são mesmo as características que melhor representam os moradores do Mumbuca. Região de homens e mulheres guerreiros, eles têm em Guilhermina Ribeiro da Silva, popularmente conhecida como Dona Miúda (1928-2010), uma figura icônica de personalidade, inspiração, força e trabalho. “Minha mãe projetou o Estado do Tocantins para o Brasil e o mundo por meio da sua arte. Ela foi uma das percussoras do capim dourado, uma mulher simples e de muita garra”, destacou a filha de Dona Miúda, Noemi Ribeiro da Silva, conhecida no Mumbuca como “Doutora”.Conforme nos contou Noemi, a comunidade do Mumbuca é a grande responsável pela arte do capim dourado ser reconhecida e ter grande projeção. “Foi no Mumbuca o lugar onde essa linda arte foi resgatada. Foi uma herança que nossos antepassados nos deixaram aqui. Mamãe começou a aprender as técnicas de capim dourado com a minha avó aos 14 anos. O Mumbuca ama e se preocupa porque nossa arte não pode acabar por falta de cuidado”, disse.Noemi reclamou sobre o que chamou de “atravessadores” do capim dourado. “Existem muitos atravessadores que não se preocupam com a questão social do capim dourado. Eles ganham muito dinheiro em cima do trabalho que nós fazemos aqui no Mumbuca. Eles não querem preservar, cuidar e nem nada. Visam apenas o lucro. Minha mãe cuidou e respeitou o capim dourado durante toda a sua vida”, protestou.A filha de Dona Miúda disse também que uma das preocupações de sua mãe quando estava viva era sobre a preservação do capim dourado. “Minha mãe falava sempre assim: eu estou indo embora, se vocês não cuidarem do capim dourado, essa nova geração só vai ver ele no papel. Vão perguntar o que era essa arte e irão responder que ela se chamava capim dourado”.Na comunidade existe uma associação de artesãs que se organiza para produzir e comercializar as peças artesanais de capim dourado. A colheita do capim é feita de 20 de setembro até o início das chuvas em novembro. A comunidade do Mumbuca respeita as técnicas de manejo sustentável do capim, embora existam pessoas da região infringindo as leis e colhendo o capim fora de época. “O capim dourado está dando vida às pessoas, dá o sustento, tudo o que tem na casa delas é comprado com esses recursos, a geladeira, a mesa, a televisão, panela de pressão, ferro elétrico, colchão, cama”, disse a artesã.Durante o mês de setembro, a comunidade comemorou a 9ª Festa da Colheita do Capim Dourado, evento marcado pelo início da colheita do capim, época em que as famílias vão aos campos de veredas para a coleta da matéria-prima dos artesanatos que produzem. Durante o evento deste ano, foi lançada a marca Mumbuca, primeiro resultado efetivo de um trabalho que se propõe a contribuir com o desenvolvimento da economia da região do Jalapão.Nova geração aprende sobre plantio e artesanatoNoemi explicou que na comunidade do Mumbuca existe a tradição dos mais velhos ensinarem a nova geração sobre o plantio, colheita, cantos e o artesanato com capim dourado. “Quando há a colheita, os pais já levam os filhos para ensinar as técnicas de manejo. A gente ensina com maior prazer e humildade porque isso é muito importante para manter a nossa cultura”, finalizou. Neta de Dona Miúda, Daniele Ribeiro, 19 anos, conta como aprendeu a fazer o artesanato de capim dourado. “Aprendi com a minha mãe. Ela passou essa tradição pra gente e isso nos ajuda muito. Com a renda que eu ganho com a venda dos objetos já consigo comprar as minhas coisas e ajudar em casa”, concluiu.Visite o MumbucaA comunidade fica localizada no município de Mateiros, na região do Jalapão, perto da rodovia TO-110. O local é uma vila que possui hotel, restaurante e uma loja para venda de artesanatos feitos em capim dourado.-Imagem (Image_1.1364978)-Imagem (Image_1.1364977)