Deborah Secco tem 35 anos e quase 30 de carreira. Começou cedo na profissão e garante que nunca teve dúvidas do caminho que pretendia seguir. À Bianca Ramoneda, Deborah conta como é o seu processo para construção de cada personagem, usando diários, recortes e colagens, e o desconforto que teve que superar para enfrentar as cenas de nudez em alguns trabalhos marcantes.

Tanto o processo de trabalho quanto a superação do medo para as cenas de nudez, ela deve ao diretor Daniel Filho. Foi ele quem sugeriu que ela fizesse aos 13 anos, para a peça Confissões de Adolescente, um exercício para descobrir porque a personagem era tão masculina. Todas as suas personagens têm signo, perfume, cor preferida, lembranças da escola, diário e cores de preferência.

Deborah conta que foi na novela Suave Veneno que Daniel Filho começou a aflorar esse lado. Deborah tinha 18 anos e sua personagem na trama era uma maria chuteira muito bonita e sensual. Ela dizia ao diretor: “Daniel, você escolheu a atriz errada! Eu me achava o ser humano mais horroroso do planeta, andava de moletom para esconder o que tinha por trás”.

O diretor pediu à figurinista Marília Carneiro que fosse à casa da atriz para trocar algumas roupas pelas da personagem, como saias e tops, para que Deborah incorporasse as peças à sua rotina. Ela ainda revela como superou o medo das cenas de nudez e lembra da frase de Daniel Filho que ela leva como lição para a vida: “A sua timidez, os seus medos e as suas vontades não podem ser maiores que a sua vocação”. E funcionou. “Eu descobri que a minha raiva, o meu medo, traziam para mim essa sensualidade. Hoje não tenho dificuldade de fazer cena de nudez porque aprendi a controlar esse desconforto”, explica a atriz.

Seja pelo medo ou pela raiva, de lá para cá Deborah coleciona personagens sensuais, entre elas Bruna Surfistinha, sobre a garota de programa homônima. “Esse filme me calejou muito nessa área, se eu parasse para pensar, não faria.” Deborah conta como foi o laboratório para encenar essa personagem, o que ouviu das meninas que vivem da prostituição e que são essas histórias que valem a pena na profissão. “A arte é necessária para isso, para que a gente se reinvente, se reveja, se vasculhe internamente, para que a gente abra mão das nossas maiores dificuldades”. “E eu não posso, por pudor ou por vergonha, não contar essa história que eu tive o privilégio de ouvir”, conta a atriz.

Programa

A entrevista de Deborah Secco ao Ofício em Cena vai ao ar nesta próxima terça-feira, às 23h30, na GloboNews.