A ficção científica está em alta entre as séries. Duas das produções mais adoradas nos últimos meses são do gênero. Westword, da HBO, aborda o universo da convivência entre homens e máquinas conscientes, enquanto Black Mirror, retomada pela Netflix, examina os extremos das consequências das novas tecnologias. A partir de hoje, o Brasil ganha uma nova grande representante do gênero, 3%.

Primeira produção original da Netflix totalmente feita no País, a série se passa em um contexto pós-apocalíptico em que apenas 3 entre cada 100 brasileiros conseguem ter condições de vida mais prósperas. No enredo, o País vive uma distopia, em que um governo totalitário e opressor decide que tem direito a viver bem apenas aqueles que se submetem a uma seleção, chamada de Processo, extremamente rigorosa e por vezes injusta.

Não foi preciso muito para que surgissem, nas primeiras exibições prévias da série, quem observasse um paralelo com atual situação da sociedade brasileira, algo confirmado como intencional pelos produtores. “O Brasil, de uma maneira, já é uma distopia”, observou nesta semana, a atriz Bianca Comparato, uma das protagonistas da série.

Para a jovem artista, um dos poucos rostos conhecidos entre o elenco de menos idade, a analogia com o Brasil atual é possível sob algumas perspectivas políticas, econômicas e sociais, que sempre fizeram do País terra fértil para florescer a desigualdade. “É uma série sobre um futuro, mas, na verdade, é uma série sobre a gente mesmo”, completa a intérprete da personagem Michele.

Saga

Totalmente criado por brasileiros, o enredo da série teve seu próprio nascimento uma saga e tanto. Tudo se iniciou há pouco mais de seis anos, quando o criador e roteirista da série, Pedro Aguilera, ainda era um estudante de cinema na USP. Ele se juntou aos colegas com a intenção de criar uma websérie e inscrever o projeto um edital do produção do Ministério da Cultura.

A ideia, inspirada em leituras de Admirável Mundo Novo (1932) e 1984 (1949), vingou e o trabalho foi parar no YouTube, onde chamou a atenção de executivos da Netflix que buscavam ideias de roteiro para primeira produção da empresa no Brasil. De acordo, com a plataforma de streaming, 3% será apenas o pontapé original para produções em português.

Vice-presidente de séries internacionais, Erik Barmack diz que é “super provável” que outras séries ganhem espaço no catálogo da empresa mundo afora. Segundo ele, outros projetos já estão encaminhados para sair do papel. Além do público brasileiro, a partir de hoje, cerca de 190 países onde a Netflix está presente terão entre as opções a produção feita em solo brasileiro.