Chegando aos seus 286 anos dos primeiros moradores, a histórica cidade de Natividade considerada a “Mãe do Tocantins” é cheia de uma charmosa arquitetura colonial, festas religiosas, folclore e gastronomia. A data também é lembrada pelos 116 anos de realização da Festa do Divino Espírito Santo. 

A mais antiga cidade do Estado respira tradição e cultura tocantinense, mesmo em meio à pandemia merece uma lembrança especial por sua contribuição histórica. O Jornal do Tocantins tentou contato com a Prefeitura Municipal para saber se haveria alguma ação, mesmo que online de lembrança a data, mas não teve retorno. Nas redes sociais, a administração publicou uma mensagem em lembrança da data. 

Já o Governo do Tocantins lembrou do aniversário compartilhando um pequeno histórico sobre a cidade e suas festividades, mesmo sem programação oficial, além do parabéns do secretário da Indústria, Comércio e Serviços (Sics) e presidente da Agência do Desenvolvimento do Turismo, Cultura e Economia Criativa, Tom Lyra: “Natividade nos remete às origens da ocupação da região que hoje compreende o Tocantins, é símbolo da nossa história e da religiosidade, por meio das festividades tradicionais católicas e da Dona Romana. Trabalhar pela preservação física e cultural da cidade, assim como pelo bem estar do povo nativitano é uma das missões dadas à Adetuc pelo governador Mauro Carlesse.

Natividade faz parte do primeiro núcleo na região do Tocantins e sua fundação remete à época da atividade mineradora de exploração de ouro no século XVIII, que influenciou no surgimento de outras localidades. Pela história do município, considera-se a data de fundação em 1734, entretanto, após essa data, a localidade conservou-se como arraial durante quase 100 anos e somente passou a categoria de vila em 1833.

A origem de Natividade começa com seu centro histórico, onde está o conjunto arquitetônico que apresenta uma estrutura urbana colonial, com irregularidades e simplicidade. As fachadas dos imóveis possuem dois tipos que correspondem aos ciclos econômicos aos quais a cidade passou: as mais despojadas, do período da mineração; e as fachadas mais ornamentadas, do período da pecuária.

Outra data importante para o município, é o aniversário de tombamento como como patrimônio nacional, inscrito nos livros de Tombo Histórico, Arqueológico, Etnográfico e Paisagístico e das Belas Artes. Há mais de 30 anos, as igrejas de Nossa Senhora da Natividade, de São Benedito e as ruínas da Igreja Nossa Senhora do Rosário foram tombadas isoladamente em nível estadual no ano de 1980. Já em 1987, o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) tombou a cidade, que atualmente faz parte do Programa Monumental do Ministério da Cultura.

O patrimônio arquitetônico de Natividade possui aproximadamente 250 imóveis no perímetro tombado, com destaques das igrejas, dos imóveis e espaços públicos, como praças e largos. Todo esse patrimônio e história podem ser vistos no  Museu Histórico de Natividade, onde funcionava uma antiga cadeia, da época do Império. A construção abriga o Centro de Artesanato e Apoio ao Turista, Oficina de Ourivesaria Mestre Juvenal, além de uma exposição permanente com artefatos encontrados na região. 

Além disso, o município possui uma rica beleza natural com cachoeiras, praias fluviais e trilhas da região turística das Serras Gerais no Tocantins, que atualmente se tornou uma das rotas para espichar a viagem de quem conhece a região do Jalapão, devido a sua proximidade  geográfica. O patrimônio natural que mais se destaca é a serra costeira, além da Cachoeira Paraíso, que  possui diversas quedas d’água de médio e pequeno porte, em meio a pedras e paredões rochosos formando, ao longo do percurso, piscinas naturais de águas verdes e transparentes.

Presente

Apesar de não haver comemorações, a cidade este ano recebe um presente do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan). O órgão irá realizar a recuperação da estrutura da Ruína da Igreja Nossa Senhora do Rosário dos Pretos que deve começar em até três meses. O local ainda será sinalizado e o projeto visa evitar a degradação causada pela ação do tempo e, além da consolidação da alvenaria, terá a recuperação da estrutura e o tratamento das superfícies da edificação de pedra e tijolo. O orçamento previsto é de R$ 348 mil.

Além da Ruína, um imóvel residencial da cidade tombado recebe o serviço de estabilização, com previsão de custo estimado de cerca de R$ 141 mil. O reforço na edificação localizada em área tombada será realizado com base no artigo 19 do Decreto Lei nº 25/1937, que prevê que se o proprietário que não dispuser de recursos para providenciar obras de conservação e reparação deve comunicar a necessidade de obras. Caso não seja realizado esse comunicado e houver problemas com a estrutura dos ambientes tombados existe o risco de multa correspondente ao dobro do avaliado pelo dano sofrido. 

Visibilidade

Desde o ano passado, os belos cenários históricos de Natividade estão disponíveis para qualquer pessoa, em diferentes lugares do Mundo acessar devido à série “O Escolhido” da Netflix, que está disponível em 189 países. O trabalho cinematográfico tem duas temporadas e aborda o conflito sobre fé e ciência traçando a história de três médicos pelas ruas de Natividade, cidade escolhida, em especial pelo seu magnetismo e religiosidade, para a gravação.

A série é uma adaptação da série mexicana "Niño Santo", com roteiro de Raphael Draccon (Dragões de Éter) e Carolina Munhóz (Feérica), que acompanha os três médicos que levam uma vacina para Zika no pantanal remoto.

Histórico 

Sua história começa no ciclo do ouro, entre 1724 e 1734, quando ocorreu a ocupação da região por bandeirantes que enfrentaram a resistência dos índios Xavantes, escravos, mineiros, sertanistas, missionários e criadores de gado, que deram origem ao primeiro povoamento da região. Natividade chegou a ser um dos maiores arraiais da então Capitania de Goiás, hoje localizada na região sudeste do Estado.  

Conforme o Iphan, essas histórias das relações que formaram o local resultaram no sítio histórico, formado casario de prédios coloniais e igrejas preservadas, São Benedito e a Matriz de Nossa Senhora da Natividade, construídas, segundo indícios históricos, em 1759, entre ruas estreitas e muros de pedra construídos por escravos. A história conta que a imagem da padroeira estadual  chegou pelo rio Tocantins e, assim, levada pelos escravos até o  Arraial de São Luiz. Na época, construída em pedra canga os negros ergueram a igreja de Nossa Senhora do Rosário dos Preto. A história remota que a construção começou  no século XVIII e paralisada por volta de 1817. Essas ruínas são uma das referências da raça negra no coração do Brasil.

Segundo o Iphan, a cidade chegou a ter 40 mil escravos no Ciclo do Ouro. Esse metal precioso era escoado em lombos de burros que transportavam as “bruacas de ouro” em caravanas até Salvador. Atualmente, Natividade ainda tem minas de ouro em atividade usadas para a produção de joias artesanais, riscas devido a técnica da ouriversaria em filigrana, ou seja, fios de ouro herdada dos portugueses. 

No início do século XIX, entre 1809 e 1823, Natividade, São João da Palma (atualmente Paranã) Cavalcante e Arraias dividiram a sede administrativa do Norte Goiano. Exatamente, entre 1809 e 1815, o Arraial de São Luiz se tornou sede provisória da Comarca de São João das Duas Barras, conforme Alvará, do príncipe regente D. João VI. Em 1815, a sede da Comarca foi transferida para São João da Palma. Em 1821, Natividade voltou a ser sede administrativa do Norte Goiano na condição de Governo Provisório. 

No ano de 1832, o Arraial passou à condição de Vila de Natividade. Já em 22 de julho de 1901, foi criada a Comarca de Natividade, instalada em 23 de dezembro de 1905, desligando-se da Comarca de Porto Nacional, mas em 1930, se deu a supressão da Comarca de Natividade, que foi transformada em Termo novamente sob a jurisdição da Comarca de Porto Nacional. Somente em 1 de junho de 1891, Natividade passou a ser cidade. 

Muito ligada com toda sua história a religiosidade é uma importante marca de Natividade. Com festejos como a Romaria de Nosso Senhor do Bonfim, considerada a maior festa religiosa do Estado, e a Festa do Divino Espírito Santo de Natividade a cidade se torna rota de muitos devotos. Dessas festividades religiosas saiu também o famoso biscoito amor perfeito, vindo de uma receita familiar do biscoito de polvilho já tem mais de 100 anos, e é passada de geração em geração.