As entranhas do momento político que o Brasil está vivendo pode parecer algo de difícil compreensão, mas a arte, como sempre, pode ser de grande ajuda. Os jogos políticos, fatos de bastidores e, principalmente, os embates de poder sempre encontram representantes de qualidade na ficção e podem até mesmo ajudar a entender nuances das entrelinhas do que o noticiário da vida real traz.

Se antes, os filmes e livros já ajudavam, hoje as séries de TV, com capacidade de serem ao mesmo tempo acessíveis (como só consegue o audiovisual) e ainda sim manter narrativa de longo fôlego, têm se tornado protagonistas. A lista de produções que abordam o assunto tem ficado cada vez mais intensa.

Uma das mais populares é já a famosa House of Cards, produção da Netflix cuja quinta temporada está marcada para 30 de maio. Adaptação de uma série originalmente feita na Inglaterra, baseada por sua vez no romance homônimo de Michael Dobbs, a série tem como protagonista o inescrupuloso Frank Underwood (Kevin Spacey), capaz de tudo para chegar à presidência dos EUA.

Vale a pena também conferir a narrativa original, que acompanha a rede de intrigas urdida por Francis Urquhart (Ian Richardson) no Parlamento do Reino Unido. Sem muito alarde, para não prejudicar o marketing sobre sua própria série, no ano passado a Netflix colocou também em seu catálogo a produção britânica, que teve três temporadas (1990, 1993 e 1993).

Artimanhas

A capital americana, Washington sempre foi um prato cheio naturalmente, já que concentra o poder do país que hoje centraliza algumas das decisões mais importantes do globo. A cidade acabou se tornando nas últimas décadas o espaço de algumas melhores produções para se conhecer artimanhas do poder, entre elas Scandal, West Wing e até mesmo a comédia Veep (veja mais no quadro).

O Brasil, aos poucos, também tem visto crescer a lista de produções de qualidade que fazem leituras diversificadas dos embates políticos. Brasília, claro, é o foco, já que é onde na vida real, neste momento, travam-se algumas das maiores batalhas de poder mais da história recente do País.

Coincidentemente (ou não?), Felizes Para Sempre? (2015) disseca a relação obscena entre empreiteiros e políticos. Coprodução da produtora O2 e a Globo, o texto de Euclydes Marinho foca dilemas de casais de uma família, mas tem como plano de fundo a promiscuidade da relação de personagens do empreiteiro Cláudio (Enrique Diaz) com membros da elite política do País.

Em O Brado Retumbante (2012), que revelou o ator Domingos Montagner, o advogado e político Paulo Ventura é eleito presidente da Câmara dos Deputados pela articulação de um senador que fazer dele um fantoche. Uma reviravolta, porém, ocorre quando presidente e vice-presidente morrem em um acidente aéreo e ele precisa assumir o posto número um do poder Executivo.

Ainda na linha presidencial, mas nas fileiras históricas, duas produções mais antigas também ajudam a entender a política recente nos trópicos. Baseado em livro homônimo de Rubem Fonseca, Agosto (1993), retrata, com licenças ficcionais, os acontecimentos que culminaram no suicídio de Getúlio Vargas em 1954.

Igualmente romanceado, o enredo de JK (2006) segue os passos da biografia de Juscelino Kubitschek. E agora vem coisa nova por aí. Diretor da franquia Tropa de Elite e um dos nomes à frente do sucesso da Netflix Narcos, José Padilha deixará Los Angeles, onde mora, para voltar ao Brasil ainda este ano e dirigir, também para a Netflix, uma série sobre a Operação Lava Jato.